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99. Reação ao estresse

18/08/2020

Já se sabe que existem inúmeras causas de estresse, e costuma ser "normal" o indivíduo, após um tempo variável, viver naturalmente, sem levar tanto em conta o desagradável acontecimento, jamais esquecido e que foi nos primeiros tempos dificílimo de ser administrado. Assaltos, rompimento de barragens, enchentes, balas perdidas, tiros, acidentes automobilísticos, noticias graves, torturas e tantas outras coisas influenciam negativamente o ser humano.

É possível que muita gente esteja, nos dias atuais, preocupada com a pandemia que vitima a humanidade. Muitas esperanças foram alteradas em direção a morte, a finitude, ao fracasso.

Todos nós reagimos ao vírus, como sempre invisível, que pode desenvolver-se e multiplicar-se. A ansiedade e a depressão podem vir a ser uma reação.

Não queremos o destino e nem o desatino dos poderes que não conseguem minimizar a possibilidade de vítimas das forças ocultas.

Em uma situação estressante, não se consegue elaborar o trauma que provoca tantos sintomas e é até incapacitante no momento do ocorrido. “Esta categoria difere das outras por incluir transtornos identificáveis não somente com base em sintomatologia, mas também em uma ou outra de duas influências causais, um evento de vida excepcionalmente estressante, produzindo uma reação aguda de estresse ou uma mudança de vida significativa, levando a circunstâncias desagradáveis continuadas, que resultam em um transtorno de ajustamento” (F43, página 143 da CID 10- Classificação Internacional de Doenças).

Também se sabe que toda sintomatologia baseia-se na capacidade do indivíduo em reagir aos problemas vivenciados e, assim, os transtornos são minimizados e o desprazer costuma ser administrável. Isso acontece nas pessoas mais equilibradas e saudáveis.

Muito traumas repetidos também podem ocasionar sintomatologia, como um grande único acontecimento desprazeroso. Segurança ou integridade ameaçados, como muitas vezes ocorre, determinam os transtornos e, é claro, deve haver conexão temporal imediata e bastante objetiva em dado contexto estressante.

Costuma-se observar, no momento do transtorno, ansiedade, desespero, hiperatividade, tristeza, ensimesmamento, confusão e consciência alterada. Organicamente sempre ocorre taquicardia, sudorese, palidez, tremores e até desmaio. Na crise, aparece tudo isso, de modo visível e, às vezes, outras sintomatologias diversas, inclusive tentativas de suicídio e surtos psicóticos.

Nosso enfoque nessa breve narrativa diz respeito aos transtornos de estresse pós-traumático, nos quais o paciente ou algum familiar nos comunica o doloroso evento.

A crise começa a diminuir em cerca de três dias. Entretanto, o estresse pode ocorrer muito mais tarde e com muito sofrimento. Nesse contexto tão difícil, o fator temporal é bastante variável e o indivíduo poderá sofrer durante anos, até mesmo o restante dos dias.

Esse transtorno surge em geral como uma resposta tardia ao contexto traumático e pode ser vivido como catástrofe, dor e sofrimento. Existem os fatores predisponentes, que costumam ser muito variáveis, e as pessoas envolvidas podem ser historicamente complicadas.

Como sintomas típicos, observam-se as memórias intrusas fortes que alteram o comportamento. Recordam o trauma, e os surtos dramáticos vivenciados diminuem, aparecendo algum tempo depois. Nós, psicanalistas, devemos observar todo o possível e, inclusive, perceber certos desencadeamentos anteriores para novas interpretações: ansiedade, depressão, hiperexcitação e até pensamentos suicidas.

Para aliviar as memórias, o paciente às vezes utiliza ansiolíticos, drogas e álcool. O curso é flutuante, mas sempre é possível prover tratamento com psicoterapia associada, se necessário, aos psicofármacos, ou seja, aos ansiolíticos e antidepressivos. Às vezes, também é útil medicação para facilitar o sono desses indivíduos tão atormentados.

Com frequência, surgem e devem ser tratados, sintomas obsessivo-compulsivos. Estes associam-se às memórias e até a sonhos repetitivos, que invadem o pensamento do indivíduo. É possível observar sequelas crônicas tardias, que também merecem tratamento e, às vezes, são praticamente incuráveis. Contudo, é claro, só saberemos dessa incurabilidade, até improvável, depois de um tratamento efetivo.

Em linhas bem gerais, com o enfoque dirigido ao principal, era o que pudemos narrar acerca dessa possibilidade humana.


O próximo texto será sobre transtornos somatoformes.

TENTAR SER O OUTRO

Tentar ser o outro?
Ser igual à maioria.
Ser igual a poucos?
Complicado.
Se parecem ocos.
Igualdade ou diferença?
Triste uma, última crença.
Sempre os mesmos outros.
Aos poucos, aos poucos nada.
Há, sempre há que escolher.
Ser igual à maioria,
ser diferente,
como sempre,
é difícil,
difícil a vida e seu ofício.
Difícil viver em armistício.
No momento ser fenício,
fora da história,
enorme sacrifício.
Ainda que o cotidiano
pareça eternamente vitalício.
Tentar ser outro…


(poema de minha autoria)

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