96. Psicossomática 2
Em inúmeros trabalhos com influência psicanalítica, os indivíduos possuem uma parte claramente psicótica da personalidade associada a uma vulnerabilidade orgânica genética ou congênita. Parece, para os lacanianos, que a doença psicossomática diz respeito a um fenômeno sintomático, e a psicose, conforme se conhece, está vinculada com outra determinada estrutura. A doença, para eles, seria então uma espécie de defesa contra a estrutura psicótica esquizofrênica.
Para nós, trata-se de uma doença da personalidade que, como dissemos antes, ocorre em pessoas que não conseguem verbalizar os fatos e praticamente vivem sem poesia e sem metáforas. Vivem sem comparações inconscientes.
Para Lacan, eles ultrapassam o registro das constituições neuróticas e passam muita dificuldade nas relações objetais. Assim, o gozo retorna ao corpo com lesões corporais evidentes. O outro não existe pela deformação do registro imaginário com o registro simbólico. Mas, o outro não é somente o próprio corpo. O significante tenta uma certa transcrição do recalque que já não é mais um significante, como acontece na estrutura neurótica. Significante é muito mesclado ao significado.
Esse foi meu enunciado breve sobre a chamada doença psicossomática, na qual sempre se observa um conflito inconsciente muito semelhante com a neurose. Entretanto, existe uma parte do corpo frágil, suscetível de ser somatizada, devido, como sempre, a uma causalidade múltipla. Veja, leitor, já abordamos e falaremos muito de causas que vão se somando. Portanto, elas constituem uma causalidade múltipla e obedecem a várias origens somadas, que produzem um determinado comportamento inadequado.
As enfermidades psicossomáticas diferem das psiconeuroses, pois ocorre nelas uma alteração orgânica visível e muito capaz de produzir sintomas em seres racionais e inteligentes, mas pobres nos afetos. Estas pessoas somatizam com muita facilidade e logicamente sofrem bastante. As alterações produzidas pelos sintomas são visíveis e podem até ser mensuradas.
Nesses doentes, o poder do mundo representacional, das associações linguísticas e das palavras envolvidas de origem inconsciente deixa a desejar. Não funciona como deveria.
CÁ
Cá estamos nós.
Despidos pela vida.
Despidos pela existência.
Nós em nossas peculiaridades.
Nus em nossas peculiaridades.
Solenes em nossas mediocridades.
Vitoriosos em nossas humanidades.
Cá estamos nós.
Sempre e sempre sós
amanhã seremos pós.
Enrolados, em tantos nós.
Procuramos um eterno salvador.
Procuramos algo que nos livre da dor.
Algo que nos livre de tanto sofrimento.
Cá estamos nós.
Sempre e sempre sós,
amanhã seremos pós.
Mesclados com a terra: nós.
Sabedoria e merda.
Tanta merda. Tudo tão merda.
Uma cabeça hoje anda tão lerda.
Saliências, buracos
brincam nos encontros,
criam cotidianos,
na plenitude dos enganos.
Gravitam, engravidam
possibilidades.
Dia a dia,
encanto e desencantos.
Voz, ou pranto
no silêncio.
Gravidez, estupidez
sei lá, gente.
Impertinente acaso.
Jogo de dados raso.
Trazendo
gente,
tangente da inefável
unicidade pungente.
Mesclados com a terra: nós.
Sabedoria e merda.
Sei lá, sei lá…
Tanto fez, tanto faz.
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