top of page

89. Psicoses e surtos psicóticos

09/06/2020

É bastante comum se falar que tal pessoa encontra-se em surto psicótico. Provavelmente, apresenta alucinação ou delírio. Existem várias causas para isso e somente um psiquiatra poderá fazer o correto diagnóstico. Alguma droga psicoativa pode ser também a causa da situação esquizofrenizante, assim como fadiga excessiva ou alterações no próprio sistema endócrino dos indivíduos. Problemas esquizoafetivos ou alterações graves no humor: depressão ou mania. É claro que tudo isso pode criar uma situação psicótica, o que não significa, necessariamente, tratar-se de uma doença psicótica. É diferente ser ou estar psicótico.

No surto, encontramos alguém com muita ansiedade, alucinações frequentes (auditivas, visuais e cinestésicas) e delírios de vários tipos. Grandeza, influência, bloqueios e conhecimento dos próprios pensamentos por outras pessoas. O que caracteriza basicamente o surto psicótico é um evidente afastamento da realidade. Não obedece à lógica e à razão necessárias para a vida cotidiana. Apresentam-se estranhos ou exageradamente felizes e não pretendem abrir mão de suas ilógicas reflexões. São pessoas que amam seus delírios e também suas alucinações, mesmo que se declarem vítimas. Na maioria das vezes, desejam fugir da realidade, que, aliás, não é fácil, mesmo para nós psiquiatras ou o complexo ser humano.

Temos de fazer algo, e utilizamos, então, os chamados antipsicóticos típicos ou atípicos. Às vezes, só é possível uma sedação. Porém, eles, os psicóticos, acordam e continuam ameaçando.

Freud e outros analistas perceberam com clareza que os delírios representam uma parte do sujeito que foi projetada na realidade externa. Se o sujeito pudesse reconhecer isso, provavelmente mitigaria seus delírios. Mas, eles parecem muito entranhados ao serem influenciados pelos aspectos delirantes de suas personalidades.

Os inconscientes desses indivíduos são muitas vezes claros, mas para eles sempre estranhos. Um mundo diferente e capaz de vitimá-los definitivamente. Essa espécie de recalque da própria realidade alimenta esses pensamentos insólitos, as vezes metafísicos e, portanto, até filosóficos.

A abordagem é difícil, pois esses indivíduos representam a verdade em suas peculiares vicissitudes. Todos nós duvidamos de nossas verdades. Eles, não. Suas verdades são absolutas e inquestionáveis. Nunca vão submeter essas verdade a nossas observações críticas. Os próprios antipsicóticos não podem ser utilizados, pois os alienados projetam muito e introjetam pouco. E é claro que, muitas vezes, vamos ver nesses antipsicóticos uma ineficiência própria de quem não consegue equilibrar-se. É comum não aceitarem as medicações prescritas.

O surto psicótico poderia abrir as portas para uma possível compreensão de delírios e alucinações. Mas, não costuma ser tão útil assim. Eles logo vão reagir negativamente a qualquer hipótese de tratamento. Seus familiares apenas querem interná-los para, desse modo, negarem suas existências dramáticas e que necessitam de auxílios bastantes complexos.

Quanto à natureza dos delírios, elucidando de modo muito breve, o de ruína, o de personalidade e o da desrealização podem estar associados com quadros depressivos, nos quais surge uma tristeza da alma, na profundidade do ser. Mania de grandeza, exaltação e euforia podem associar-se com megalomania. No delírio paranóico, surgem associações persecutórias, medo e bastante hostilidade. Ou perseguem, ou são perseguidos. Violência associada.

Como o leitor pôde perceber logo, há vários tipos de delírio no curso do pensamento psicótico. As alucinações obedecem à estrutura delirante envolvida. A grande riqueza sintomatológica desses quadros é, infelizmente, proporcional à pobreza de alternativas possíveis para uma personalidade não naufragar no triste mundo da loucura.

Em geral, pouco podemos fazer para a melhora dos psicóticos, mas devemos conservar a esperança de que algo da realidade possa voltar ao encontro dessas pessoas atormentadas pelo suceder psicótico. Eu diria muito atormentadas pelas situações que nem elas próprias podem reconhecer. Alienação está muitas vezes vinculada com o insólito.

Acredito que não devemos impregnar os indivíduos com os antipsicóticos. Como se sabe, é possível causar até sintomas extrapiramidais com o uso excessivo desses antipsicóticos. Também se sabe que muitos outros fármacos podem evitar tais problemas neurológicos. Porém, os psicofármacos devem ser utilizados apenas para criar algum contato com o psicanalista. As antigas jaulas dos manicômios transformam-se em um museu de cera pela impregnação. Isso não costuma ter utilidade para o tratamento dos indivíduos com transtornos psicóticos bem desagradáveis ao nosso senso comum.


Na próxima semana falarei sombra a luta de classes: pandemia, violência policial e racismo.

CADEIAS ASSOCIATIVAS

Projetos, projetos…
Inventou-se algo.
Alguma letra.
Algumas letras.
São várias as palavras existentes,
que só brilham na alma.

Motivo desafiador.
Dor de tantos já passados.
Amor nas palavras presentes, invenção do acaso.
Perdido, perdidos dados, universo configurado.
Fios, associações, rios livres.
Emaranhados, revoltos
revolta, associações.
Idas, voltas. Nossas precárias lidas.

Letras, rimas, estranhas cismas.
Reflexo, convexo, verso, universo.
Muito colorido ou sem cor.
Matéria escura, natureza ex conjura.
Entre a sombra e luzes
obuses de crepúsculo, cruzes na alvorada.


(poema de minha autoria)

© 2023 por Nome do Site. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook
  • YouTube
  • Instagram
fim%20do%20vi%CC%81deo%20(3)_edited.jpg
bottom of page