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84. As psiconeuroses 1

05/05/2020

Na narrativa desta semana, vou procurar, em linhas gerais, um enfoque importante, creio eu, para a compreensão das chamadas psiconeuroses que acometem provavelmente a grande maioria de nossos pacientes. Já escrevi sobre elas em outros textos, mas agora o enfoque é mais direcionado ao contexto das histerias, fobias e obsessões.

Nessas neuroses, os aspectos psicológicos e psicanalíticos são muito evidentes, pois remetem sempre aos conteúdos latentes enunciados e descobertos pela metapsicologia.

Na psicastenia e neurastenia, os conteúdos psíquicos não são tão explícitos e a pressão externa auxilia o entendimento. São neuroses praticamente determinadas pela educação sexual represada, na qual o coito interrompido costuma e costumava ser importante.

As histerias, os sonhos, as falsas recordações e os atos falhos suscitaram para Freud a descoberta do inconsciente, conforme já foi amplamente descrito desde o início de minhas narrativas.

Na histeria, a conversão implica sempre alguma alteração motora ou sensitiva da inervação corporal. A energia da ideia incompatível paralisa uma parte do corpo e isso foi chamado de conversão histérica, já em Psiconeuroses de defesa, trabalho de Freud publicado em 1884, ou seja, bem no início do saber psicanalítico. Isso ocorreu bem antes da formulação mais detalhada do complexo de Édipo, como uma estrutura ambivalente no menino e na menina, relativa ao seu pai e à sua mãe. Como é sempre bom recordar, o Complexo de Édipo foi e é preconizado como o “complexo nuclear de todas as neuroses”, sempre associado com a escolha objetal que parte do autoerotismo, caminha até os narcisismos e alcança o amor em todas as vicissitudes, todas as reflexões e tantas poesias. Sabemos que, já em 1897, em uma carta a Fliess, a essência do desejo humano já era estudada pelo pai do saber psicanalítico.

Na histeria dissociativa, observa-se uma cadeia associativa fechada em si mesma, que permanece separada de outra cadeia associativa, tanto na representação de ideias, palavras, como na representação afetiva. As pacientes histéricas apresentavam, assim, uma divisão nítida do psiquismo: as chamadas personalidades duplas. Em situações mais adversas e mais graves, existe até personalidades múltiplas em um contexto bastante psicótico e talvez até esquizofrênico. Parece aqui haver alterações genéticas, constitucionais, hereditárias e capazes de se agregar para alterar gravemente os comportamentos inadequados.

Desejo que o leitor conheça o caminho do instinto que, muito diverso da pulsão, é mais somático. A pulsão está no limite entre o biológico e o psiquismo. Para que isso seja possível, encontramos aqui representantes ideativos e afetivos para cada situação específica e assim começa a estruturação psíquica, com seus representantes já afastados do aspecto corporal, já afastados do aspecto biológico.

Escrevi sobre os dois tipos de histeria: a conversiva e a dissociativa. Como as outras psiconeuroses que enfatizarei a seguir, não existem estado típico e sintomas claramente estabelecidos. Existe, sim, com sintomas mesclados, pois o indivíduo humano é sempre múltiplo e complexo. Assim, nada é inteiramente típico e peculiar, o que complica nossa possibilidade de trabalho psicanalítico.

No momento, o enfoque será a respeito das fobias que já foram descritas como histerias fóbicas devido a semelhanças apresentadas nos comportamentos e transtornos do homem doente: praticamente todos nós, inclusive, é claro, os enfermos.

Por meio de mecanismos introjetivos e projetivos, observa-se em alguns indivíduos algo que produz medo na realidade externa, que costuma ser incompatível com a razão e entendimento de cada pessoa.


Na próxima semana, continuarei enfocando as psiconeuroses.

METAFÍSICO UNIVERSO

Voo sem asas, sem direção.
Em confuso zig-zag desvio de árvores
frondosas, postes altos, prédios.
Pés com autonomia bem anárquica
escolhem o caminho.
Escolhem um mundo só deles.
Cansa, sofre a falta angustiante das palavras.
Das palavras.
Cada palavra estranha, não conhecida
produz uma luta silenciosa que não quero.
Calado, muito calado, não há palavra, nem conto.
Transpiro desencanto. Nada conto.
Extemporâneo espanto, vestido de verso.
O poema tangencia cada problema.
À noite, cantiga tão serena.
Silêncio angustiante, algum medo.
Lua, estrelas, alguma escuridão.
Um metafísico universo sem enredo.
Em estranha ordem, cada brinquedo.
O verso anda nu.
Cada verso ainda nu.


(poema de minha autoria)

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