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8. Minha história

23/07/2018

Há mais de 50 anos, quase meio século, no início de minha formação psiquiátrica, fui direcionado à psicanálise freudiana. A evidência determinante da interpretação dos meus próprios sonhos criou uma importância enorme para entender meu mundo interno. Pude constatar que, por intermédio das palavras, conseguiria alguma compreensão de vários aspectos psicológicos misteriosos, até o conhecimento da metapsicologia como a essência, a verdadeira alma do saber psicopatológico articulado com a psiquiatria. Sem a teoria do inconsciente, muito não seria compreendido com profundidade necessária para o indivíduo dentro dele, seu mundo interno, e com as outras pessoas, seu mundo externo e também o mundo objetivo (realidade).

Freud, ao criar a metapsicologia, inventou o inconsciente com suas próprias leis. Os lapsos, os sonhos, os sintomas, a sexualidade humana e tantas outras manifestações passam a ser conhecidos com maiores possibilidades. O mundo interno de cada ser humano também se torna perceptível. A escolha da psicanálise foi motivada por ter enorme alcance em cada um de nós.

A vida interior, na natureza humana, só consegue ser entendida a partir da metapsicologia, como já falamos antes, criação de Freud que estuda o particular, nunca geral, fazendo análise dos componentes psíquicos envolvidos nos processos nos quais a psicologia tradicional não compreendia. Trata-se do particular e, assim, várias experiências peculiares ao saber científico não devem sofrer sua notável influência ao cuidar, sobretudo, da linguagem e das palavras.

Os textos, os discursos e as falas revelam o inconsciente, tanto nos escritos iniciais – inconsciente, pré-consciente e consciente –, como nos posteriores articulados ao id, ego e superego. Nada disso escapa da abordagem metapsicológica e seus pontos de vista: topológico (lugares), dinâmico (forças em jogo) e econômico (carregar e descarregar tensão endopsíquica), e nada escapa das estruturas psicológicas envolvidas.

Assim, o conhecimento mais profundo de muitos aspectos da vida dos humanos só é realizado por intermédio do saber psicanalítico. Não consigo explicar muitos acontecimentos psíquicos sem levar em conta a extensão surpreendente de nossa essência psíquica. Porém, isso não significa que posso entender todos os processos humanos, mas somente (e são muitos) os vinculados ao mundo interior dos indivíduos e na relação dele com os outros indivíduos.

A realidade do mundo objetivo não nos interessa do ponto de vista psíquico e nem está ao nosso alcance. Os instintos, inclusive, devem ser estudados pelos especialistas no comportamento animal, ou seja, os etólogos. Vivemos sob a égide das pulsões próprias do desejo humano, que pode erotizar ou agressivizar cada uma delas. Este desejo encontra-se sempre articulado à memória em seus caminhos e também em seus descaminhos. A memória que nos interessa não tem qualquer materialidade orgânica. É sempre virtual e, portanto, ligada ao mundo das representações. E, é claro, também ao mundo da linguagem. Portanto, palavras que estão no lugar de coisas provavelmente reais.

Quando comecei a perceber que o psiquismo pode significar, profundamente, espelho, ao mesmo tempo em que reflexão articula-se ao nosso pensar, não acreditava mais em procurar a memória (acredito que seja biológica) na estrutura dos neurônios. Sendo biológica, modernamente, essa memória é produzida com o ácido desoxirribonucleico (DNA). Comecei a colocar muita ênfase no psiquismo como expressão de linguagem, e para compreender vários fenômenos psíquicos teria de me utilizar de explicações associadas a palavras, aos verdadeiros significantes do mundo interno e também da própria realidade externa, já que o universo das coisas em si não pertence ao psiquismo e, portanto, escapa do conhecimento humano.

Passei à compreensão do significante como relação única entre imagem fônica e significado. Também tive o conhecimento, sempre relativo, de que as pulsões são representadas no campo afetivo e também no ideativo. Assim, não podem ser observadas no âmbito dos instintos relacionados a tudo que é vivo e, é claro, à nossa parte constitucional orgânica (celular, tecidual ou anatômica).


Na próxima segunda-feira, continuarei a abordar a extraordinária invenção freudiana: a chamada metapsicologia.

ALQUIMIA

Lucidez ou loucura?
Insuportável estupidez
na rua escura.
Aventura conspícua, perene,
utópica, etílica,
descuidada, despudorada mistura.
Ignorância, poesia, cultura:
ao gosto da criatura.


Publicada no livro "Luz e Sombra", escrito por mim.

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