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76. Tensões sociais no mundo de hoje 2

10/03/2020

Não conseguimos ser santificados e plenamente com conduta exemplar. No momento das ações, tropeçamos em nossos narcisismos, mentiras e dissimulações, sempre. A ação fica bloqueada no espaço da virtualidade que não torna o processo civilizatório nenhum pouco melhor.

O grande filósofo Kant enunciou e criou um universo interno melhor para o mundo sabido e virtuoso. Temos uma vontade nata que se assemelha ao imperativo categórico de pessoas capazes de escolher e fazer o bem, sempre em defesa contra o mal. Sabemos que tudo isso é uma utopia própria da virtualidade, pois não existe nas ações humanas objetivas. A transformação de qualquer processo civilizatório demonstra insegurança, medo e ansiedade. Vamos deixar tudo como está. Desde os antigos existe a crença de que o estranho traz más notícias, perturba a ordem vigente e deve ser afastado. A sociedade forte e o Estado capaz ajudam a manter obediência e adequação.

Do ponto de vista sociológico, já citamos vários aspectos sobre os indivíduos que causam nossa estranheza e devem assim ser combatidos. Os estranhos, os inadequados, eles. Agora, vou narrar aspectos mais sutis das notícias negadas por intermédio da lei da obediência. Nos manicômios que construímos mais para separação dos psicóticos de nosso convívio do que para tratá-los, existe a péssima notícia de que eles mobilizam nossos delírios internos, que nós próprios negamos.

Nas prisões e penitenciárias não se deseja muito a readaptação para a sociedade da qual os detentos foram expulsos. Além de cumprir penas e o confisco da liberdade, podem revelar a violência e psicopatia que existem em cada um de nós, nosso oculto e bem escondido desejo de transgressões e até de matar. Os países e outras sociedades que nos são estranhas podem revelar desejos do mundo interno que não podemos admitir. Devemos lutar por um planeta sem fronteiras, sem alfândegas e sem divisões. Ainda que hoje muita coisa pareça ser utópica, devemos batalhar para diminuir a diferença entre “nós” e “eles”. Somos humanos e necessitamos sempre de outros humanos. Os extremismos devem ser abolidos, ainda que lentamente para que não se repitam. É claro que isso nem sempre é possível.

Não podemos inventar, com auxílio maior ou menor da mídia, um bom inimigo, pois não existe lógica alguma nisso. Cada ser humano precisa da família, dos pais, dos amigos, da religião e da sociedade. Cada um precisa ser antes de mais nada aceito. Até os terroristas são muito bem aceitos na fase de treinamento fora de seus países de origem. Todos precisamos de todos e só isso pode começar a melhora do narcisismo que modela nossa individuação e, consequentemente, nossa autoestima, apesar de tantos equívocos éticos presentes em nossa atuação moral.

O outro, ou os outros, até passam nossos narcisismos, muitas vezes limitam nossa liberdade e controlam nosso direito livre de ir e vir. Precisa-se obedecer. A inclusão social verdadeira para combater até o terrorismo é lembrarmos que o inimigo deseja apenas uma vida melhor. Muitas vezes, foi iludido de que isso acontecerá, o que cria mais esperança no futuro próximo. Devemos-nos lembrar que o ser humano pode morrer inclusive, antes dos fatos, mas é inevitável que faça suas experiências.

O medo oficial, originando-se na religião, no cosmos e no desconhecido, cria e mantém essa ordem cínica que poucos conseguem atender. Resistimos e mentimos! Infortúnio e humilhação! Depois, aspectos depressivos, pois não se consegue ser plenamente integro. É mais fácil ser mais desajustado porque comumente não conseguimos ser santificados.

Conforme estamos narrando, tanto racismo como a xenofobia são os sintomas e nunca os remédios necessários para outra civilização. Temos de aprender com as misturas e eliminá-las. As discriminações são terríveis para a humanidade. Vide o que ocorreu durante o período da Segunda Guerra Mundial, só para citar um exemplo historicamente recente.

Urbanização e industrialização não podem associar-se com nacionalismo incondicional, religioso, militante e guerreiro. Temos de transformar os sistemas políticos, quase todos inadequados.

Como se sabe, o conforto moral não é algo que ocorre naturalmente. Atribuímos à natureza muita coisa que depende de nós, seres humanos, complexos e esperançosos. A cega obediência às leis do mercado criam contradições permanentes. O mercado não pode estabelecer e manter problemas que nós criamos. Pensamento e ação estão sujeitos ao diálogo, às associações linguísticas, e somente podemos ter fé no poder transformador da cultura, nos aspectos nos quais possa haver equilíbrio maior entre direitos e deveres, entre nós e eles.

O esforço é necessário e nenhum fracasso é imperdoável. Tudo vai evoluir de maneira lenta e, tomara, esperançosa. As tarefas são difíceis, pois quase nada é simples.

Vamos enfrentar as crises juntos. Nós e eles somos os mesmos e constituímos a mesma história. Muito mais estranho é investirmos numa estranheza que mente, descabida e raramente verdadeira.


Na próxima semana, o texto é sobre o feminismo na nossa civilização.

QUEM SOMOS?

Graça, desgraça, ventura, desventura
fazem nessa complexa vida.
Forjando-se dureza e ternura,
transcendentes, espectrais, lágrimas
puras, muito do irreal, olhos brilhantes
até virtuais, mudanças demais.
Traços, compassos, eternos ais.
Somos coloridos pelo sol.
Apagados e muito pela escuridão.
Dias trágicos, meses mágicos.
Comédias e primaveras,
histórias densas, fuga de eras.
Dança doce das quimeras.
Vermelhidão nos poentes,
presságios tristes, desalentos.
Sinos gemem. Almas tremem.
Tanto incerto: morte ou sorte.
Caminhos. Vamos. Quem somos?


Carlos Roberto Aricó

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