75. Tensões sociais no mundo de hoje 1
03/03/2020
Por que tantas pessoas caminham, sofrem, enfrentam planícies, pântanos, vulcões e numerosas agruras para migrar ilegalmente da América Central aos Estados Unidos? Muitas morrem pelos caminhos, algumas chegam e, depois, são deportadas impiedosamente. Outras não morrem, mas também não chegam à “sublime" terra do “use a força ou ela esmagará você”. Por que muitos indivíduos, partindo do Oriente Médio, são chamados de terroristas para chegar à Comunidade Europeia? Só alguns conseguiram. Sua “recompensa” é fazer parte do mercado de trabalho da pior espécie possível. Quase toda semana observamos multidões querendo vencer as águas do Mediterrâneo em barcaças sem estrutura alguma.
Grande parte transforma-se em alimento para os peixes, particularmente tubarões esfomeados. As ondas desafiam nosso entendimento. Seres humanos navegam e maioria retorna pior do que estava antes. Muitos tornam-se pedintes, pois o mercado de trabalho não os acolhe. Não servem ao pior e selvagem capitalismo. É sempre oportuno lembrarmos que o fenômeno migratório está sempre associado ao medo e à ansiedade. A esperança fracassa na realidade e o mundo fica cada vez pior e com muitos problemas gritantes. Parece que sempre existem respostas para amparar as perguntas básicas, alicerçadas na ordem e nas leis.
Assim, não valem a pena perguntas, pois elas não levam a lugar algum. A ordem e a lei originadas na religião articuladas aos políticos espertos criaram muita coisa injusta que existe hoje. Concentração de renda e ataques ao meio ambiente. O “status quo” permanece equilibrado e próprio da zona de conforto que se produziu por tradição, esperteza e populismo. É mais fácil esquecer que a migração foi causada e ainda o é pela busca de uma vida melhor. Queremos um local mais rico que crie mais esperança, onde possamos ter mais conforto e boas expectativas. A migração e seus movimentos pretendem apenas uma certa melhora em nossos modelos degradados.
Agora, somos os estranhos, os diferentes do cotidiano bem conhecido. Se tivermos de fazer determinado trajeto, sempre percorreremos o já conhecido. Isso é instintivo, muito peculiar à nossa familiaridade com a memória do já amplamente conhecido. A segurança é garantida por fronteiras e homens armados e os limites são impostos e suportados pelas leis e a mídia.
Cada condomínio também ocupa e cria uma zona de conforto e, portanto, de proteção. Muros altos e homens muito armados estimulam uma segurança mágica, e cada estranho, estrangeiro ou visitante não pode simplesmente entrar e, às vezes, até sair. Assim, há uma indústria de segurança para manter o establishment e sempre deixar tudo igual, no império das leis, embora muitas destas sejam injustas, sem unanimidade alguma e pouco democráticas.
Cada ser humano não enxerga o pior ou não quer perceber que sem o outro ninguém funciona bem. Será sempre necessária uma espécie de comunhão com os outros para se fazer um mundo mais civilizado. Acessos, portas e comunicação tendem a manter nossa precária civilização. A divisão entre países pobres, a maioria, é claro, e ricos deve ser bem menos importante do que separar os que mandam dos que obedecem, segundo capital, fama, performance e hereditariedade.
A crise migratória, como já enfatizei, apenas diz que os indivíduos querem mudar para viver melhor. Os da região ocupada não querem sair do conforto convencional do já conhecido, dos estereótipos. Precisa-se criar segurança e, assim, retornar ao nacionalismo popularesco contra a globalização, que, mesmo com seus erros, tenta abordar a união dos seres humanos e diminuir as agressões e as violências. O nós e o eles prejudicam muito nossa já sofrida civilização. O nós e o eles somos nós próprios sofrendo e fazendo sofrer. Acreditamos sermos melhor, a mídia nos exalta e assim caminhados para a destruição dos valores.
Nesse cenário, o indivíduo que atacamos como o grande inimigo deve ser bem conhecido para, desse modo, nosso combate parecer mais justo e adequado, com mais opiniões favoráveis, ainda que por razões obscuras nessa falsa divisão entre os lados: os inadequados e estigmatizantes e nós, os normais e os obedientes. É muito oportuno lembrarmos que o mercado de trabalho é inúmeras vezes usado para proteção e segurança dos que estão adaptados e sempre obedientes às leis, às religiões, aos sistemas políticos e à irritante e repetitiva mídia. Esta sabe distinguir o bem do mal em qualquer contexto, mas, na maioria das vezes, parece sempre cumprir ordens que desconhecemos.
Já foi mencionado antes que as interações são necessárias. Devemos criar nossas verdades fazendo perguntas, até as indesejáveis. Nossa boa performance significa ser mais feliz, mais adequado ao que vale a pena. Os alvos são construídos pela sociedade e sempre muito virtuais.
É óbvio que, pela razão, percebemos o que é o bem e o mal. A prática das disposições humanas para determinada ação é sempre difícil, apesar de um provável imperativo categórico intenso.
Na próxima semana, seguirei abordando as tensões sociais que circundam o mundo de hoje.
SER BALIZADO?
Ter alegria é colocar muita graça,
até na desgraça.
Sem ser orgulho ou arrogância
em quem vive, por quem passa.
Ter alegria é brincar
com a trapaça.
Entre nós, há gente que faça.
Humilhação, escolha, fazemos sós.
Depois, o tempo originará pós.
Muitas coisas não escolhemos.
Um outro faz, refaz por nós
nossos nós, nossos nós,
sempre apertando mais,
quer destruir a alegria
no suceder do dia a dia.
Várias vezes transparece agonia
mas…
Ter alegria é viver a graça
até na desgraça.
E a vida passa.
Magia, onipotência, força.
O esforço parece interminável.
Honra, autoestima, narcisismo
de vida, tudo interminável.
Principalmente problemas.
Magia, onipotência, força,
tão somente apenas e
se mente apenas.
Há sempre e sempre
as penas: as complicadas e difíceis
penas.
Carlos Roberto Aricó
.png)


