71. Introdução aos crimes de Pierre Revière 1
04/02/2020
Da violência até o homicídio ou a destruição da própria vida, sempre se observa pulsão de morte, uma motivação inconsciente, conforme já foi considerada, para simplificar tudo devido ao medo da complexidade: qualquer coisa difícil ou diferente deve ser combatida. O ser humano desenvolve-se por intermédio das pulsões de vida e morte, que se inserem no psiquismo transcendendo os instintos de autopreservação e sexuais.
Linguagem e biologia fabricam nossa estranha e bela humanização dentro das inúmeras regras em jogo. A criminalidade em geral articula-se à violência. Portanto, pulsão de morte. Somente em um contexto bastante inóspito a fome e a falta de bens podem engendrar violência.
Na maior parte dos crimes, existe uma perigosa composição de aspectos agressivos com a sexualidade. Hoje, é difícil não se considerar essa mescla de vida e morte para a essência do homem capaz de destruir o outro ou a si próprio. Capaz de modificar muita coisa, piorando quase tudo.
Amplas e profundas discussões são bastante úteis para refletir sobre a conduta criminal e as cabíveis punições, conforme já foi enunciando anteriormente, ao se tratar da relação entre criminalidade e justiça. Nesse contexto, pretende-se escrever um crime ocorrido em La Faucterie, comuna de Aunay, em 3 de junho de 1835. O autor faz o resumo dos infortúnios do pai: breve narrativa dos sofrimentos e afeições causada pela mãe a seu pai.
Para explicar seu caráter e os pensamentos que Pierre apresentava, ele próprio escreveu sobre sua educação, muitas vezes negativa, o que provavelmente poderia ter criado as condições psicofísicas para o conhecido e triste drama existencial próprio de alguns seres humanos. Algo tão antigo e ao mesmo tempo tão presente na humanidade de hoje. Sofrimento e violência. Dor e morte. Tema, aliás, explorado de modo brilhante no filme Coringa, um dos candidatos ao Oscar de 2020, cujo personagem principal sintetiza toda essa problemática.
Há cerca de quase 200 anos, nos chega o assassinato e o memorial de Rivière. Ambos, como os dois lados da mesma coisa, procuram decidir a loucura, a sanidade e também a morte. Misto de surpresa e reflexão. Foucault e sua equipe foram mobilizados para a leitura desses remotos acontecimentos na busca da beleza e estupefação relativas aos documentos da época. E, claro, pela análise profunda das regras comuns na insanidade.
O poder, a batalha de discursos e, por meio de discursos, evidenciam-se as vicissitudes até paradoxais de um discurso dominante, evidentemente articulado com políticas socioeconômicas. O texto sobre o poder, à época, e as narrativas atuais obedecem ao conhecimento no qual o sujeito e o objeto de estudo influenciam-se reciprocamente. A norma e a normalização, com frequência, mesclam-se no âmbito do poder dominante e na ordem vigente peculiar ao establishment - contexto imerso em dúvidas.
Na próxima semana, escreverei a continuação de narrativas relacionadas com Rivière.
AZÁFAMA INTERNECIDO
Quem será?
Como será?
Meu caminho, meu sonho,
tantos anos só, engano!
E os projetos?
Feitos na dor dos desafetos.
Percorro estradas,
na ingênua esperança,
novo encontro.
E magnífico o encanto.
Quem será?
Como será?
Minha nova prisão.
Claudico em singular chão.
Os anos tão iguais
repetem as mesmices.
O assédio do tempo
continua indiferente.
O tempo congelado
brinca no idêntico.
Transborda no já conhecido,
tempo atual, tempo ido.
Sempre o mesmo tempo ido,
de homens vencidos,
decaídos.
Nas tantas ilusões: vividas.
Agora debilitados
entristecidos,
permanecem
tecidos no vazio,
esquecidos no vazio.
Mortos: morridos.
(poesia de minha autoria)
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