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66. Esquizofrenia, uma estranha enfermidade 2

12/11/2019

Independente de qualquer teoria, existe uma clara divisão do comportamento humano no suceder psicótico. O pensamento, o afeto e ação, tudo é dividido. Existe sempre uma cisão que torna o indivíduo também fragmentado, conforme já foi narrado em outros contextos. A pessoa mostra-se ambivalente e contraditória, sempre presa nas garras impiedosas da loucura, nas quais a liberdade fracassa e os sonhos não prosperam, quase "perecem". Qualquer possibilidade de síntese para juntar as partes cindidas não costuma ser alcançada nesse ser que sofre muito e estranha tudo: o seu próprio mundo interno e a realidade objetiva.

Os delírios tentam ajudar nas contradições do mundo interno e ao menos fornecem explicações importantes para a vítima encontrar alguma explicação convincente dentro de si. O mundo misterioso e delirante dos indivíduos esquizofrênicos ou maníacos também não consegue estabelecer as premissas para essa nova razão que modifica tanto e causa transtornos de personalidade, passageiros ou permanentes, como um todo coerente, é claro, dentro da loucura.

É oportuno enfatizar que tanto os psicóticos como os não psicóticos não desejam a verdade sempre idealizada e inalcançável. Nós queremos simplesmente a melhor versão sobre tudo que ocorre nas opiniões do humano, demasiadamente humano. Os fatos são considerados, unidos ou não, sempre a serviço da conveniência que se deseja na construção da discutível “verdade" própria dos religiosos em textos de fé e esperança. O saber humano é sempre apenas um pedaço da realidade das inúmeras opiniões possíveis.

Quero deixar claro que a demência precoce, tão frequente na atualidade, diz respeito a uma degeneração celular no sistema nervoso central que nada tem a ver com os quadros psicóticos. Neles existe clinicamente uma perda progressiva da memória de evocação e poucos sintomas delirantes. O cérebro vai entrando em estado demencial e as pessoas vitimadas chegam ao esquecimento de suas próprias funções básicas. As demências não têm nada a ver com as chamadas loucuras, nas quais, na maioria das vezes, o cérebro encontra-se intacto, preservado, sem sinais de alteração alguma.

O enorme mistério do suceder esquizofrênico está associado de modo paradoxal ao silêncio orgânico do cérebro. Somente depois de muitos anos é possível verificar se há alguma alteração, quase nunca específica, como acontece hoje. Nos quadros catatônicos ou hebefrênicos parece haver algum comprometimento orgânico, porém não específico. Parecem línguas diferentes, faladas por pessoas sempre estranhas. Uns apresentam catatonia e outros riso sem motivo, além de extravagâncias da conduta. Ambos evoluem mais rapidamente para demência, com a morte de vários pedaços do sistema nervoso central.

Bleuler, quando inventou o conceito de esquizofrenia, pensava em duas divisões do psiquismo: uma praticamente orgânica e uma mais tardia e mais psicológica. Uma diz respeito a algo interno e misterioso dentro do indivíduo e gera os aspectos negativos dos transtornos esquizofrênicos: zerspaltung incoerente, formação de pensamento rígida e conceitos concretos. Outra, com aspectos positivos, diz respeito a como cada indivíduo reage à divisão primitiva e parece até procurar a cura dos transtornos ou, ao menos, as explicações necessárias para o mundo interno, agora insólito, esquisito e estranho. É óbvio que essas duas divisões misturam-se, não são didaticamente determinantes, nem facilmente entendidas.


Na próxima segunda-feira, o texto encerrará o tema “esquizofrenia”. Posteriormente, escreverei sobre a loucura e, depois, sobre um psicótico francês de tempo atrás.

CRESCER

Há anos espera crescer,
este poeta, pateta
dos desenganos.
Um pateta dos desencontros,
nos cantos e nos contos.

Na poesia, talvez se compreenderia
patéticos prantos,
mesclados à metafísica,
em mística de tantos mistérios.

Há anos, espera crescer
este poeta, tão singular
cretinice do sempre,
tão singular no triste
e também no contente.


(poesia de minha autoria)

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