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64. Hermenêutica: linguagem e utopia

29/10/2019

Reina o absoluto Deus nessa instância acima de tudo. Além das ameaças, existe a proteção e, assim, se torna óbvio o consolo significativo. Deus é o destino, e no livre arbítrio pode-se intuir uma certa inocência. O devir, o futuro, pode ser algo além da fé judaico-cristã. Minha relação com as palavras e a linguagem busca nossa significação, conforme enunciarei no final dessa narrativa.

Aos 97 anos, o filósofo Edgar Morin exala um saber até profético. O texto em prosa diz respeito à industrialização do trabalho e da vida. A técnica está vinculada com a burocratização e as leis. Na poesia, as relações de amizade, afeto, prazer e até o jogo fazem, portanto, algo lúdico, no qual o mundo pode progredir. A imprensa e a mídia são acobertadas pelo dinheiro e diminuem a diversidade dos textos. Sempre houve notícias falsas e a história procura apenas salientar esses parâmetros epistemológicos.

É fundamental valorizar as utopias boas. Por exemplo, temos o direito e o dever de sonhar com um mundo sem fome. Por enquanto, apenas uma boa utopia. Também podemos imaginar um mundo com menos corrupção. A sorte no mundo civilizado tem diminuído bastante. A própria internet não inventa notícias falsas. Apenas as espalha pelo Planeta. O que podemos fazer? Sair da acomodação crônica no combate à mecanização que sempre se repete de modo até monótono.

Lutar pelo renascimento de uma nova era e de um novo homem. Fazer cada um a própria parte da necessária transformação. Menos técnica, menos mecânica, menos prosa, menos racional. Lutar por uma civilização na qual haja mais esperança. Humanizar verdadeiramente a sociedade. Poder de escolha com mais liberdade, ainda que a escolha seja equivocada, incorreta, mas sincera. Sabedoria e não poder de fogo. Nunca a força pode ter mais poder.

Para encerrar essa narrativa: fé e esperança em reencontrar as pessoas que morreram, feliz com elas e elas comigo, no escuro outro lado da vida. O bem deve existir mesmo sem lembrança alguma, antes do nascimento, sem nenhuma significação, sem nada.

Conforme já tenho enunciado, todo esquema de paternidade é simbólico. Assim a lei, o Pai, o nome do Pai, o complexo de Édipo não devem ser procurados na realidade objetiva. As palavras são muito importantes na narrativa. Representam identidades, nomes, filiação e, desse modo, a linguagem e tantas outras vicissitudes. Tantas outras consequências, as palavras e a linguagem vão fazer que aconteçam.

Como enfatiza Ricoeur, o pai e o filho são muito semelhantes ao senhor e o escravo de Hegel. A hermenêutica estudou profundamente a morte do pai e a substituição religiosa a partir de Freud. É importante observar que a fantasia ao símbolo religioso, o desejo humano, cada vez mais humano, sobrevive com muito poder. Outras ilusões também são poderosas.

Narra Ricoeur uma trilogia que se articula com o aspecto econômico do desejo, a filosofia associada ao espírito, como fez Hegel em sua dialética brilhante e, finalmente, uma exegese das figuras envolvidas no âmago das religiões. Essa tríade mencionada pelo já citado Ricoeur diz respeito a uma vinculação importante entre o inconsciente freudiano com a filiação e certa filosofia reflexiva religiosa. Cada interpretação histórica deve levar em conta esses contextos.

O leitor amigo, é claro, tem observado os caminhos da hermenêutica e como as instituições são numerosas. Da religião, dos deuses, de Deus, do ateísmo e cada um de nós buscando modelos para nosso aprimoramento. Às vezes, tenho algum medo de Deus, da morte, da desesperança, do sofrimento, da finitude. No muito triste gemido, nem pensar. Mas… a vida continua em cada instante.


Na próxima semana, escreverei sobre essa estranha realidade do ser humana com maior profundidade: a loucura.

OBSERVAÇÃO

Na poesia, uma máscara.
Uma face, um rosto.
Palavras passam pelas paredes.
Mágicos neutrinos.

Fantasmas ultrapassam tudo.
Nomeiam coisas e objetos.
Agora já determinados,
até sabem quem são.

Cada poesia uma verdade,
uma dúvida, uma estória.
O presente brinca no passado.
Passo no paço fazem só espaço.

Sem azáfama navegam
através de portas fechadas,
portos sem mar, sem oceano,
harmonia e conflito, aflitos.
Atritos, estranha saudade.

Nas entranhas dos seres: vaidade.
As palavras passam pela parede.
Neutrinos e fantasmas.
De verdade.


Carlos Roberto Aricó

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