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60. Convulsoterapia: tratamento e nunca castigo 1

30/09/2019

Há quase meio século, quando me formei, fui trabalhar em Franco da Rocha, na primeira colônia masculina, plena de psicóticos abandonados. Logo na primeira semana, recordo-me bem, veio a mim um indivíduo que de forma estereotipada, como fazem muitos esquizofrênicos, pretendia saber se iria utilizar com ele o cardiazol. Estivava apavorado e disse a ele que não. Ele disse preferir outras substância próprias para psicoterapia menos o choque cardiazólico.

Conforme se sabe, esta droga produz convulsão generalizada e alguns segundos antes, sensação de morte iminente.

Este método "terapêutico" foi abandonado no início dos tratamentos.

Sabemos que o eletrochoque ainda é utilizado no planeta. Seu custo é pequeno e também serve como castigo. Assim, é claro, a convulsão produzida pelo cardiazol também funciona como castigo.

Hoje talvez só deve ser utilizado com anestesia geral, nas depressões bem resistentes, e mesmo assim com muito cuidado. É evidente que o castigo deve ser substituído sempre pelo diálogo mais correto. Já foi enunciado em outro contexto que depressão e mania pertencem a bipolaridade acentuada. Na depressão as pessoas não se alimentam e, consequentemente, podem morrer. Os maníacos ficam dias e noites sem dormir. Histórias graves que não podem ser incluídas na bipolaridade da moda: freqüente e até com algum charme. Há algum tempo atrás era muito frequente o diagnóstico de bipolaridade.

As antigas e incapacitantes lobotomia são feitas hoje em países bem evoluídos seletivamente com raios lasers ou feixes ultrassônicos: nos transtornos graves e bastante resistentes aos psicofármacos. Nossa eleição: psicofármacos e diálogos. Lesionar os pacientes não pode simplesmente ocorrer. Só existem poucas excessões onde isso pode ser realizado. O cérebro já é bastante conhecido, e a tecnologia avançou muito. Cardizol nunca mais. Eletrochoque e psicocirurgias talvez, nos quadros bem resistentes. Insistimos nisso: talvez nos quadros bem resistentes. Isso não costumava acontecer.

Quem sofre merece ajuda e essa ajuda continua mais do que nunca variada, com muitas possibilidades envolvidas e sempre individualizadas.


No dia 07 de outubro volto a escrever sobre convulsoterapia e, é claro, seus perigos.

ACTA EST FABULA

Cultura versus natureza.
O espiritual rasgado
pela realidade,
e o homem sempre desatinado.

Busca-se em cada caminho,
a ignorância,
a mediocridade,
um descaminho,
o labirinto onde se perde.

Nunca há encontro.
Na lucidez de sombras,
brilha um arco-íris
feito de cores desmaiadas.

No hospício
nem sempre no hospício,
um homem acordado
sonha e alucina.
Sem opções reais,
é enorme o desejo de apagar.
O desejo de desaparecer.

E o homem vivo,
coração pulsátil,
razão sem razão,
caminha lento para o nada.

Caminha entre brumas,
para a escuridão,
nada feliz,
nada infeliz.
Só e só caminha.

Escaminho estúpido,
infinita dor.
Descaminho patético,
jardim sem flor.


(poesia de minha autoria)

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