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56. Neurose, psicose e criatividade 5

01/09/2019​

“La realidad es ahí donde el silencio propicia el nacimiento del lenguaje. Porque antes que el oído están los ruídos y antes que la vista lo creado y antes que las palabras están las cosas. Callar para poder mirar oír y hablar en una lenta floración olvidada”.
(Juan Liscano)

No momento, faremos algumas considerações entre o objeto a e a sublimação. Tanto o analista como a obra de arte podem ocasionalmente ocupar a posição inefável do objeto a.

O “deus morto", a "coisa em si”, a “realidade muda”, o "das ding" incomodam o homem e geram a necessidade de criar.

“A perspectiva criacionista é a única que permite entrever a possibilidade da eliminação radical de Deus. É, paradoxalmente, somente na perspectiva criacionista que se pode fazer frente à eliminação da noção sempre remanescente da intenção criadora como suportada por uma pessoa”.

A criação é algo que discrimina o nada e responde ao silêncio apavorante do absoluto, presentificando aquilo que não se representa. A presentificação da falta, do não dito, do inominável somente se realiza por meio da sublimação.

Como se sabe, Lacan priorizou a hierarquia da cadeia significante sobre o significado. Daí sua enorme importância nesse texto, em suas possibilidades de sublimação. A estrutura que permite o engendramento do significante também possibilita a sublimação. O sujeito barrado pelo significante que o produz determina uma falta-a-ser. É por meio da sublimação que o sujeito eleva-se ao nível da coisa (o objeto e a coisa não serão representados). Não pode haver máscaras imaginárias em nenhuma parte da coisa que é sempre incognoscível. O “das ding” incognoscível fascina o sujeito que emerge dos significantes em jogo.

A relação do sujeito com o sintoma não nos auxilia tanto na compreensão do ato criativo quanto a do sujeito com seu fantasma. É na relação do sujeito com o fantasma que pode ocorrer mudança, à medida que o objeto deixa de ser uma significação. Repetimos o que já foi enunciado antes: o sujeito neurótico apenas pode reproduzir a norma, não ousando transgredir e criar a perspectiva do novo. O sujeito psicótico subverte constantemente a norma, quase nunca a respeita. Dá a ilusão de que vive criando e recriando a partir de sua pseudoliberdade. Como o sujeito psicótico rompe com a norma, mas, ao mesmo tempo, não se insere na ordem da lei, a “produção artística" fica fora da cultura. Portanto, conforme assinalamos, pela vertente sintomal o sujeito fracassa nas possibilidades de criar. Por outro lado, quando atravessa o fantasma, muda sua relação com o objeto a e, agora, pode sublimar e, consequentemente, produzir atos criativos.

A sublimação possibilita romper com a norma, transgredir o senso comum e, simultaneamente, pelo suporte simbólico articulado à lei, resgatar a cultura, criando novas significações.

Em cada obra de arte observa-se sempre, de modo contínuo e misterioso, o trabalho da falta presentificando o objeto e, ao mesmo tempo, discriminando o nada. O objeto tornado presente e imitado ultrapassa os limites do imaginário.

Assinala Lacan: “Realmente, as obras de arte imitam os objetos que representam, mas seu objetivo, no entanto, não é representá-los. Ao dar a imitação do objeto, elas fazem dele outra coisa. Assim, nada fazem, além de fingir que os imitam. O objeto é instaurado numa determinada relação com a coisa, feita, ao mesmo tempo, para marcá-lo, na presença e na ausência”. A imitação do real que não pode nunca ser representado, semblante valorizado da arte e do artista, só se torna realizável a partir da sublimação sustentada pela falta: "É da falta que a sublimação parte e é com a ajuda dessa falta que ela constrói o que é sua obra e que é sempre a reprodução desta falta. Isto implica, no interior do ato. uma repetição…

A possibilidade criacionista surge por certa ação sobre o real, desenvolvida a partir do nada. Exclamações e perguntas desfilam diante de um vazio, geradas pelo encontro do sujeito com a imitação do objeto na obra de arte. A ordem no impossível pode simbolizar o real, por meio do mito eterno da completude: negação ilusória da falta. O artista criativo só pode produzir o novo em virtude da sublimação decorrente da mudança do sujeito, relacionada ao fantasma em sua travessia pródiga. O intimismo do sujeito resgata pela força do simbólico os caminhos e descaminhos da cultura.


BIBLIOGRAFIA DE NEUROSE, PSICOSE E CRIATIVIDADE 1,2,3,4 e 5:


1. ARICÓ, C.R. - Reflexões sobre a Loucura - Ícone, S. Paulo,
1986
2. DELEUZE, G. e GUATARRI, F. - O Anti Édipo — Imago, Rio de Janeiro, 1976.
3. FERRETI, M.C.G. - Sublimação e Objeto “a” - B.F.B. - São Paulo, 1987.
4. FORBES, J. - Psicanálise: A escolha necessária - B.F.B. São Paulo, 1987
5. FREUD, S. - Obras Completas - Imago, Rio de Janeiro, 1969
6. LACAN, J. - Écrits - Éditions du Seuil, Paris, 1966.
7. LACAN, J. - Os 4 Conceitos Fundamentais da Psicanálise - O Seminário (Livro 11), Zahar, Rio de Janeiro, 1979.
8. MILLER, J.A. - Sintoma e Fantasma — Clínica Lacaniana, no 1, B.F.B., São Paulo, 1985
9. MILLOT, C. - La Sublimation, Création ou Séparation? Ornicar (no 25), Navarin, Paris, 1984.

OUTRA POESIA

Telhados murchos.
Tortuosas ruelas.
Pracinha pobre.
Um cantinho podre,
na antiga cidade.

Bar, cemitério, empório,
habitantes familiares,
no conhecido ritmo,
nos fortes hábitos,
no novo impossível.

Fantasmagórica repetição
do sempre, mesmice,
do já visto.
Outro dia,
só em outra poesia.
Alegria, só em outro dia.


(poesia de minha autoria)

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