48. Localização dos sistemas psíquicos 1

03/06/2019​

Devo dizer, antes de tudo, que a localização do psiquismo é sempre simbólica ou virtual, sem materialidade orgânica. A neuroanatomia e a neurofisiologia não podem influenciar diretamente no espaço complexo e sempre representacional. Qualquer lugar no psiquismo é utópico e nem as sinapses, com quase infinitas associações, não podem determiná-lo. Lugares psíquicos não existem na materialidade orgânica.

​Quando Freud inventou a primeira tópica, o inconsciente, o pré-consciente e o consciente eram lugares virtuais, mesmo possuindo leis e conceitos, não mais apenas noções, que criaram muito da metapsicologia sem base orgânica e, nem por isso, própria do poder médico. Ele pode explicar até a atualidade inúmeros fenômenos psíquicos. As palavras e os afetos organizam em nível representacional numerosos comportamentos humanos, sendo estes relativamente normais ou descritos no âmbito dos transtornos.

​Ao longo de sua obra, Freud descreveu o ID, o Superego e o Ego e depois, em 1923, procurou estabelecer as relações com o inconsciente, o pré-consciente e o consciente, no monumental trabalho “O Ego e ID”. Até hoje, infelizmente, parece haver analistas que não entenderam esse interessante mapa do psiquismo de cada um de nós. Freud não produz revelação nenhuma, mas descreve e sintetiza muitos estudos revolucionários anteriores. É o último grande trabalho teórico do inventor da psicanálise.

​Existe nele influência desde 1896, como de o “Projeto” e a “Interpretação dos sonhos”, revolução feita no capitulo sétimo e também artigos ou trabalhos metapsicológicos de 1915. É oportuno lembrar que em todos eles existem dinamicamente forças que determinam e são determinadas pelo inconsciente, produzindo uma clara divisão do psiquismo: há algo que deseja expressar-se e não pode por alguma força também inconsciente que não permite o fim da divisão. Tudo é estranho e poderoso para a determinação do comportamento humano.

Devo esclarecer ao leitor a respeito de minhas interpretações sobre a psicanálise. É claro que, durante meio século, procurei e ainda procuro um entendimento mais profundo e relevante da metapsicologia, não somente a de Freud, relida depois por Lacan e outros. Busco, como sempre, entender o psiquismo em mim, nos outros e na realidade até da epistemologia positivista. Procuro sempre entender as minhas verdades e indicar as minhas dúvidas, como o leitor pode observar inúmeras vezes.

Vou escrever como acredito ser o nosso psiquismo e algumas partes complexas no saber psicanalítico de Freud e de outros.

O sistema consciente é tudo aquilo que eu utilizo no momento em que eu desejo. É parte do Ego e parte do Superego. Uma parte relativa ao que sei em determinado momento, como conheço, também, as regras civilizatórias do posso e não posso, nosso código de ética interiorizado. Tudo aquilo que se encontra em minha memória disponível, que inclusive o meu cérebro organiza, orienta e pode realizar, tanto nas leis e regras que desejo utilizar sem impedimento e sem nenhum obstáculo ou transformação, foi chamado de pré-consciente, do Ego e do Superego. Nada de divisão no psiquismo, tudo em harmonia e sem dificuldades. Devo ater-me aos envolvimentos civilizatórios armazenados em minha memória, talvez até no DNA. Uso do que eu quero e também do que eu posso.

Como o leitor pode facilmente entender, o consciente e o pré-consciente são harmônicos entre si e dependem da atenção no presente e da memória que eu possa e queira utilizar. É importante enfatizar que não há divisão alguma entre o consciente e o pré-consciente.


Na próxima semana complementarei o texto sobre “Localização dos sistemas psíquicos”.