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47. Psicanálise: a profissão impossível 2

27/05/2019​

Conforme já foi descrito antes, Freud costumava ser até frio para evitar a transferência. É provável que conhecesse bem os encontros entre Anna O. e Breuer, de um lado, transferência e, de outro, forte contratransferência. Breuer considerava Anna O. bem interessante e falava muito dela até sua mulher expressar ciúme. Breuer teve de inventar uma viagem com a própria mulher, como uma nova lua de mel, e terminou o tratamento de Anna O. de maneira repentina e com óbvios insucessos. É importante mencionarmos que isso ocorreu no início da psicanálise. Ou seja, no início da psicanálise, o envolvimento entre o analista e o analisando, em nível transferencial, não era necessariamente observado. E isso, é claro, gerava uma série de problemas que depois iriam comprometer o próprio ato psicanalítico.

Mais tarde, Freud procurou condições para uma catarse sem hipnose, já que nunca ele próprio julgou-se bom hipnotizador. Precisava juntar as associações com as histórias das pacientes para a melhora psíquica delas. Enfatizo aqui que, em geral, se tratava das mulheres, pois no início da psicanálise elas foram frequentemente mais numerosas. Era necessário fazer catarse e libertar o paciente de sintomas, objetivando uma vida melhor.

Foi somente mais tarde que se enfocou com mais cuidado e profundidade o método das associações livres. Para Freud, também foi muito difícil, pois somente quando seus pacientes abandonavam a autocrítica poderiam fazer associações mais livres. É claro que também já podiam, de certa forma, libertar-se inclusive da psicanálise. Era difícil aceitar o mal-estar da sexualidade humana para causar os sintomas neuróticos. Os aspectos agressivos envolvidos foram descritos alguns anos depois. Porém, desde 1900, em carta a Fliess, já citada, ele pensava no Complexo de Édipo como o complexo nuclear das neuroses. Vida e morte na ambivalência conceitual. O luto edípico muitas vezes é visto como a resolução de um complexo bastante enigmático.

​Entre 1910 e 1925, tornar consciente o inconsciente passou a ser o principal objetivo de Freud e, é claro, nem a ignorância pôde invalidar o Complexo de Édipo e a busca das estruturas inconscientes. Em 1912, em “Recomendações aos médicos...”, é assinalado o conceito de atenção uniformemente flutuante em direção às complexidades do inconsciente no Ego e também no Superego. Já no trabalho “Repetir, recordar e elaborar”, de 1914, Freud questionava a razão e a inteligência. Elas não devem explicar e compreender todos os fenômenos psíquicos.

​Tendo em vista a transferência e a contratransferência que se criam e se estabelecem entre duas pessoas, o pai da psicanálise mencionou em muitos estudos o tema com uma compreensão mais elaborada desse vínculo profundo com afetos, dor e sofrimento. Até no humanismo, no luto compartilhado de alguém que expressa a morte de um ente querido, podemos observar o surgimento de uma poderosa transferência e, claro, também resistência.

Em linhas gerais, escrevi sobre os caminhos de Freud e continuo acreditando que a psicanálise é a profissão do impossível, mas também do possível. E, é claro, se trata de uma profissão bastante difícil, que já foi até julgada como algo impossível, mas que, uma vez que cada um de nós tenha se preparado bastante, acredito que ela possa ocorrer de modo natural.

Atualmente, como se sabe, existem algumas terapias que acreditam no esforço grande do corpo para corrigir o pensar. Desse modo, surgiu certa desrazão. Não acredito nisso, pois com associações livres e transferência, o analista pode criar mais conhecimento sobre o mundo interno.


Nas próximas semanas, pretendo escrever sobre o psiquismo com localização diferente do anatômico e do orgânico, um psiquismo na ordem do representacional.

MENINA DE TRANÇA

Menina dos cabelos ajeitados,
tranças de ouro.
É futuro e tesouro.
Sem preço, sem prece, nada peço.

Nem apresso meu passo.
Vejo esse pedaço de amores.
Já não importa a sequência das cores.
Bucólico arco-íris, belíssimas tardes.​
Vejo em você esse grande pedaço
só de amores.


(Poesia de minha autoria)

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