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46. Psicanálise: a profissão impossível 1

20/05/2019​

Em 1937, já muito conhecida a metapsicologia, Freud comparou as possibilidades de fazer análise com as profissões de educar e governar. Claro que conhecemos as enormes dificuldades que se apresentam nesse contexto. Como tornar consciente o inconsciente com certa neutralidade requerida? Como educar crianças tão diferentes e com necessidades também tão diversas? Como governar e se fazer o equilíbrio entre a maioria e as individualidades particulares, próprias das minorias?

Há quase meio século sei como fazer e exercer a psicanálise, apesar das dificuldades nas quais tanto o analista como seus pacientes, usando aqui modelo médico, encontram-se envolvidos, e ambos têm todas as leis e contradições do sistema inconsciente.

Por essas e outras razões, é tão difícil preparar um indivíduo objetivando criar as condições básicas para o exercício da psicanálise. Escrevemos sobre isso na “Formação do psicanalista”, estudo de obras médicas, metapsicológicas, supervisão das pessoas atendidas e análise individual do futuro analista.

Agora, farei um breve relato de algumas importantes consequências para o desejado aprendizado no saber psicanalítico.

Freud, no início de seus inúmeros trabalhos, menciona o fato de colocar sua mão na testa das pacientes para que elas fizessem associações com os sintomas apresentados. Sem o pleno conhecimento que depois adquiriu, não imaginava que tantas mulheres fossem apaixonar-se por ele. Combatia o amor transferencial com certa frieza e racionalidade. Ao apontar para os erros vinculados a esse amor, procurava superar as resistências envolvidas no insipiente tratamento. Ele ainda não conhecia os aspectos transferenciais que ajudava tanto a criar. Ao comentar com elas o estado de paixão, pôde, com dificuldade, assinalar que a ligação afetiva e até sexual auxiliava a resistência e esse amor pela figura do médico e deixava encoberta sua pessoa. Poderia se observar um amor mais verdadeiro negado pela transferência.

Não sei até hoje se todo o amor não tem como base uma profunda relação transferencial dos indivíduos. Do neurótico, sabemos que a própria doença cria e mantém as transferências afetivas mais ou menos sexualizadas e também agressivizadas.

Freud, sempre que pôde, procurou com todos os esforços lutar para que prevalecessem a técnica e a tarefa médica. Assim, combatia as paixões complicadas que com frequência surgiam.

Antes de mencionar a história de Anna O., deve-se imaginar que a transferência, ou seja, projeção dos sentimentos de outro, ocorria entre mulheres orgulhosas e carentes de amor com analistas desejosos e até mesmo embriagados pelo saber e poder da metapsicologia. Isso era tão evidente que não poderia ser

compreendido em profundidade com tantas outras observações psicanalíticas. É de se pasmar que essa relação transferencial ocorria e muitas vezes não era percebida como deveria ser e nem compreendida profundamente.


Na próxima segunda-feira, encerrarei esse assunto.

50%

Mundo cheio,
lascívia e medo,
de sorriso e lágrima.
Erotismo, perigo.
Euforia e dor.

Mundo cheio,
branco e preto.
Cinza impossível.
Certa utopia medíocre,
Claridade, escuridão, no chão.

Semente sem cor,
se mente, sem brilho.
Ou qualquer átomo doente.
Sem outro enredo decente.
No chão, estranhamente.


(Poesia de minha autoria)

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