41. A perversão: comportamento antissocial 2
15/04/2019
O Complexo de Édipo, conforme já foi mencionado, sempre implica o desejo humano: alguém deseja algo, existe esse algo a ser muito desejado e, claro, ocorre de modo poderoso a interdição, o proibido, o "não pode e nunca poderá". O temor associado com o Complexo de Castração domesticará as pulsões do indivíduo humano. A maioria das crianças já apresentou alguns comportamentos de birra que os pais de alguma forma conseguiram minimizar. O leitor já sabe que birra em um adulto seria intolerável. Não se pode prometer tudo a uma criança e nem proibir tudo. O bom senso e o amor devem modificar muito os comportamentos indesejáveis. A sociopatia não pode ser tolerada e, claro, tem amplo e complexo espectro. Educar é mesmo muito difícil, mas não existe outro caminho. Todos passam pelo Complexo de Édipo e também pelo medo de castração. Assim se civiliza e assim se educa.
Tendo enfatizado o fundamental para que nos transformemos em ser humano, ou seja, pela domesticação das pulsões e, assim, construímos uma civilização que, na grande maioria das vezes, não costuma ser tão justa e, desse modo, desaba para o enorme desequilíbrio entre o capital dos que podem e dos que quase nada podem. Ideologia é apenas uma forma de justificar a zona de conforto dentro de um padrão bem racional e lógico. Qualquer associação de complexos linguísticos pode criar e manter certa ideologia. O pensar humano é baseado nos sistemas ideológicos, hoje, cada vez mais complexos e confusos. Complexos e contraditórios.
A cultura costuma ser mais ampla e com mais elementos do que a própria civilização. Nosso modo de sentir, agir e pensar.
A cultura está fortemente associada com a civilização e, portanto, com o Complexo de Édipo e com os limites da castração. Podemos atacar a cultura por meio do racional, do poético e das desrazão. Isso é importante. Temos lugar ou devemos ter lugar em cada cultura para destruí-la, é claro, somente simbolicamente. Aí podemos muito e devemos ser livres, muito livres, para os receptivos símbolos em questão. Tudo e tantos problemas e, claro, no faz de conta, na produção de sistemas com outras consciências. Tudo no campo do faz de conta. O nome do pai, conceito desenvolvido por Lacan, é o nosso acesso à linguagem, às palavras e aos instintos modificados. Nada tem a ver com as coisas da realidade nem na filosofia positivista. Palavras apenas procuram representar as coisas, mas não são as coisas da realidade objetiva e verdadeira. O nome do pai em sua aceitação significa entrar na cultura humana e na civilização. É claro, desde que a criança aceite a lei que proíbe a morte do pai ou mãe e aceite a lei contra o incesto. Agora sim já se pode pertencer à sociedade.
Parece-me lógico que essa lei não pode ser exercida ou até imposta só pela força repressora. É uma lei na qual se mescla amor e liberdade e, assim, o interdito fica mais tolerável.
A estrutura edípica torna possível a articulação do sujeito desejante em seu discurso erógeno. Já é possível o abandono da arrogância infantil da onipotência. Não é necessária a ruptura com o pacto social. Birras, não. Depois, comportamento antissocial, não.
O pai simbólico é internalizado e a civilização torna possível que os impulsos pré-edípicos, predatórios, homicidas e incestuosos sejam reprimidos e as atitudes delinquenciais, domesticadas.
A partir de tudo isso, é possível evitar atividades antissociais de roubos, assassinados e estupros. A sociopatia reprimida dificulta o crime organizado, tão em moda nos centros econômicos de todo o planeta. O ódio presente em tantas atitudes agressivas perde sua força e a cultura perversa e despótica diminui. É claro que o caminho é longo, complexo e muito difícil. A esperança no pacto cultural e civilizatório pode estruturar um novo mundo, que vai sendo estruturado de modo progressivo, sempre a partir do não, do proibido. Assim, vamos originando um novo processo civilizatórios.
Na próxima semana falarei sobre a interpretação.
TEMPO
Passa.
Apresso passos.
Algo passa.
Uma pedra,
passa pela janela:
nela tudo despedaça.
Copo, taça,
nervosamente estilhaça.
Passa.
Apresso meus passos,
nem tenho pressa.
O tempo voa,
atoa também passa.
Cada minuto passa,
fica uma estória sem graça.
Folhas outonais na praça,
um corpo caído
cachaça.
Outra vez cachaça.
Passa.
Apresso os passos,
na direção do acaso.
No firmamento ocaso.
Poesia de minha autoria.
.png)


