40. A perversão: comportamento antissocial 1
08/04/2019
Conforme o leitor já sabe, o menino descobre a possibilidade da perda do pênis quando ele observa as meninas. Até filogeneticamente existe uma valorização desse órgão. Então, por temor à castração é melhor não insistir na morte do pai e nem cometer incesto. Entro na civilização domando esses impulsos agressivos e aceito a lei da cultura e o nome do pai. Deste modo, domesticando impulsos narcísicos básicos, entro na civilização e também ganho dela nome, propriedade e, se for possível, carinho dos pais, cidadania e oficialidade. O menino e a menina acreditam, às vezes, que quando adultos poderão fazer tudo. Então, esperam muito tempo.
Alguns indivíduos partem para a sociopatia, as drogas ou a violência explícita. Poderão tudo e a civilização já não serve para nada. Incesto, parricídio e violência reproduzem o Édipo da tragédia grega de Sófocles e todo tipo de sociopatia pode ser escolhido nesse contexto. O poder, a falta de se colocar no lugar do outro e a falta de nome próprio (predomina o nome da galera) são os ingredientes básicos da barbárie e não civilidade. É importante haver recalque para um incesto ou parricídio e, assim, adentrar no processo civilizatório. É importante dominar a luta de classes para ser menos atingindo e, dessa maneira, assim sublimar o status quo.
Houve, portanto, um duplo recalque. Recalque para o incesto e para a luta de classes. A civilização no planeta vai mal. Um grupo de indivíduos não aceita a cultura e nem o nome do pai e, assim, a civilização não interessa como tal. A delinquência é melhor, traz mais vantagens. O pacto civilizatório, como vemos, não é tão simples. Do sujeito para a civilização e desta para o sujeito existe certa história edípica, muitas vezes cruel, violenta e coercitiva. Hoje, muito gente não serve nem para número e as injustiças crescem e a qualidade da civilização diminui. Parece que nem sempre vale a pena desenvolver-se civilizadamente. Como sabemos, as leis jurídicas servem para manter privilégios e manter esse tipo de civilização bárbara que está aí. A criminalidade e as organizações por exercício do narcotráfico prosperam.
A luta contínua contra a repressão muitas vezes perde significação diante da miséria, da mentira e do descaso. Lamentavelmente, todo o planeta sofre e o meio ambiente é impiedosamente destruído. O leitor constata a dificuldade de domesticar impulsos poderosos para entrar na civilização. Vida e morte permeiam tudo, desde o conteúdo dos esfíncteres, perda na amamentação idealizada por meios maternos, perda do órgão peniano, muitas vezes investido de narcisismo, como já vimos anteriormente. Vivemos domesticando impulsos em nome da civilização e, na atualidade, esta parece pobre, não atende todos e é precária quando atende. Assim pode alimentar as revoltas, os massacres e a conduta explicitamente sociopática. Nesse terrível contexto as atitudes oportunistas podem inflar as atitudes criminosas.
Assim caminhamos, nós no mundo, cada vez mais complexo em vicissitudes amargas e poderosas, criando a mantendo infortúnios. Édipo não poderia existir para não realizar o parricídio e o incesto. Portanto, deveria ser morto e nem nome ter. Foi encontrado com os pés amarrados em uma árvore e daí surgiu seu nome: aquele que tem os pés inchados. Foi adotado e muito amado. Também agora poderia ser construído com o nome do pai. Mas, não, pois foi saber que não era filho legítimo (biológico) e, dessa forma, seguiu seu destino.
Em uma estrada matou o ancião, sem saber que era seu pai biológico. Depois, aceitou o desafio da Esfinge e, ao descobrir o enigma, pois conhecia muita história sobre pés, fez a Esfinge matar-se. O prêmio: Jocasta, sua mãe. Incesto. Laio, seu pai, foi morto. Parricídio. Tudo foi dito pelo oráculo. A priori, realizou-se com nome de destino inexorável. Édipo sabia tudo dos pés e assim derrotou a Esfinge. Na vida, só vencemos quando sabemos mais da nossa própria história. A autodestruição de Édipo baseou- se na culpa pelo parricídio e incesto.
Esse drama de Sófocles mostra que nosso conhecimento pode e deve impedir novos acontecimentos destrutivos: os pés de Édipo.
Todo o restante foi produzido por meio ou no meio do desconhecimento, da surpresa vinculada à morte. Laio e Jocasta são personagens importantes na turma do desconhecido que prejudicou todos. Conhecer é preciso, tanto no consciente como no inconsciente. Desse modo, o psiquismo pode auxiliar mais do que atrapalhar o ser humano em seu desenvolvimento sempre complexo, como sempre temos enfatizado.
Esse texto continua na próxima semana.
FLORES MURCHAS
Ruelas estreitas
assombradas pelo atemporal.
Ouve-se às vezes soluços
em contraste com silêncio.
Inventa-se uma eternidade.
Como se inventa o instante.
Difícil de enfrentar a finitude
e suas inúmeras fábulas.
Flores murchas misturadas
com mármore e poeira,
e esperanças.
Também difícil.
(Poesia de minha autoria).
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