39. O complexo da castração
01/04/2019
Não pretendo acreditar em ameaça concreta e nem em risco real de perder parte do corpo narcisicamente muito valorizado. O mundo interno de cada um de nós já se imaginou perdendo algo como o pênis, por exemplo, no caso dos homens. As mulheres já perderam talvez os seios ou outra parte também importante. Para Freud, à medida que as crianças observam certa diferença anatômica entre meninos e meninas, surge o chamado Complexo de Castração. Uma fixação fálica pode criar uma ferida narcísica que altera negativamente a imagem do ego.
É claro que o falocentrismo real provavelmente diz respeito ao imaginário que habita cada ser humano. O falocentrismo psicanalítico refere-se a um fantasma próprio das culturas machistas. A castração é fantasmagórica, e isso é muito importante de se considerar. Torna-se provável que, no menino, o temor ajude a criar o período de latência, no qual não se observa mais uma sexualidade explícita. Na menina, existe maior dificuldade no abandono paterno, pois ela não pode mais sofrer ameaça, exatamente por já se considerar castrada. Assim o criador da metapsicologia explicava a evolução edípica no homem e na mulher. A realização de ameaça paterna no menino e o dano sofrido na menina podem ser mitigados, ou melhor, reparados com a gravidez. Nas mulheres, o bebê pode substituir o desejo de possuir um pênis.
Nas perversões exibicionistas e nos fetichistas, os atos perversos relacionam-se com o Complexo de Castração e o Complexo de Édipo. Inveja de pênis, sentimentos de inferioridade, homossexualismo podem ter essa origem, mas sempre individualizada. Porém, na maioria das pessoas pode haver sentimentos de perda, separação, fragmentação, perda de pedaços do corpo. Nesses contextos, existe sempre alguma fantasia primária ou protofantasia. As situações traumáticas são evidentes. Esclarecendo ainda mais: existe em cada indivíduo certa fantasia de castração, e não naturalmente um fato ocorrido no mundo real, como já foi dito antes.
Alterações e transtornos psíquicos vão existir. Por exemplo, a dificuldade com as perdas no grupo das depressões. Para que o leitor de minhas narrativas possa entender melhor, observe aquilo que, às vezes, acontece nas relações transferenciais. Se, por algum motivo eu atraso na sessão, dependendo do mundo interno de cada pessoa em análise, ele pode acreditar que meu objetivo seja alta das sessões, pode imaginar que eu gosto mais do paciente anterior a ele. Em situações, felizmente raras, ele pode pensar em desistir da análise.
Caro leitor, veja só algumas das possibilidades que estou descrevendo. Isso tudo tendo em vista apenas o meu atraso na sessão por 10 ou 15 minutos. E esse atraso, evidentemente, pode não ter nada a ver com as interpretações que cada indivíduo fará. Perder o pênis ou outras partes do corpo investidas com energia narcísica pode facilmente produzir fixações que poderão desencadear vários tipos de transtornos no comportamento do homem ou da mulher, e claro, em crianças. O ser humano, autoscopicamente, deve ter uma visão boa do corpo e nunca perceber alguma falta capaz de produzir dano psíquico.
O texto da próxima semana abordará a perversão.
COTIDIANO
Aquele homem,
sem dor,
sem angústia,
alegria sem medo,
sem saudade,
sem esperança,
foi náufrago.
Morreu sem saber de nada
entre lápides, cruzes e obeliscos.
Barulho pesado do silêncio,
aquele homem
sem desejo e sem paixão,
foi somente uma certa utopia
feita com merda do dia a dia.
Sem angústia,
sem esperança, náufrago no cotidiano.
Foi somente uma poesia
sem certeza nenhuma
escapando da maresia.
(Poesia de minha autoria).
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