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38. O complexo de Édipo

25/03/2019​

Parece-me óbvio que o drama grego do homem que tem ódio pelo pai e amor pela mãe seja uma história conhecida por todos nós. Trata-se de uma interpretação e, portanto, parte de uma verdade. Freud fala da universalidade do Complexo de Édipo em carta de 1897, dirigida a Fliess, que, à época, funcionava como o seu psicanalista, privilegiado confidente. ​

Quando Freud afirmava que o Complexo de Édipo era o “complexo nuclear das neuroses”, estabelecendo até certa data para ele (de três a cinco anos), descrevia um complexo com várias cadeias associativas mescladas aos afetos e desafetos. Relatava algo muito importante e mais amplo do que uma simples história. Todos nós sofremos a influência edípica e suas consequências por sermos inicialmente cuidados por uma mãe ou sua substituta. Assim, nosso apego é enorme a ela, com ambivalência entre amor e ódio, sendo mais frequente o desejo amoroso. ​

Deve-se considerar que o Complexo de Édipo faz parte da essência humana, tanto na normalidade como nos transtornos psíquicos. Agora, antes de qualquer possibilidade real, verdadeira, é sempre uma fantasia, consciente ou inconsciente de cada um, de cada indivíduo. Quando se apresenta de maneira triangular, existe nele algo comum que todos conhecemos, sua positividade, e o chamado Complexo de Édipo negativo. ​

Para complicar mais, o ser humano, sempre e por meio de ambivalência, tem historicamente os dois Édipos, os quais determinarão nossas conquistas sexuais, ou seja, nosso relacionamento com as outras pessoas possíveis. A estrutura triangular é a base da família tradicional e modela a escolha do objeto de amor, a essência da personalidade e a direção do desejo. Antes do Édipo, temos também o Complexo de Édipo dual, no qual surge a inveja como forte determinante. No Complexo de Édipo triangular, observa-se o ciúme, ou seja, algo mais evoluído no complicado desenvolvimento dos seres humanos. Talvez este se articule mais ao suceder neurótico e o Complexo de Édipo dual, ao transtorno psicótico. ​

A relação da criança com seus pais está sempre vinculada com a possiblidade da castração, que ameaça proteção e desejo. Imaginarmos nossa origem fantasiando ou perguntando o que faziam nossos pais em um quarto provavelmente fechado é parte de nossa memória. Olhar pela fechadura significa que sempre desejamos ver mais, ver além. Na famosa releitura de Freud feita por Lacan, observa-se um menino que deseja fortemente algo, é claro também uma menina, e existe sempre um interditar, um alguém que proíbe ou dificulta o tão cobiçado encontro, ou seja, um sujeito desejante, um objeto do desejo e um interditor.


Na próxima semana, escreverei sobre a castração que, articulada ao Complexo de Édipo, se origina no processo civilizatório.

ANTIGO​

Com meus olhos,
olho e vejo uns velhos óculos.
Sofridos pelo tempo,
gastos pelo olhar de meu pai.

Viveram certamente muitas histórias.
Óculos de tantas cenas,
tantas reflexões, tanta unicidade,
e disparates.

Mediaram com acertos,
com erros, o mundo interno.
Com objetivo, parte da realidade
foi observada por lentes envelhecidas.
Foi interpretada por lentes envelhecidas.

Apego e desapego misturam-se no fazer deles.
Simplesmente velhos óculos,
com muitas histórias mortas.
Simplesmente velhos óculos
gravitando na atemporalidade.
Perdidos nas gavetas e nos calendários.


(Poesia de minha autoria)

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