37. A profissão do psicanalista
18/03/2019
Farei algumas observações sobre a psicoterapia e depois, nesse mesmo contexto, considerarei alguns aspectos mais importantes sobre a formação do psicanalista segundo o modelo freudiano e não mais o médico dos primeiros relatos para a cura dos indivíduos vitimados por transtornos psíquicos.
Não se trata a psicoterapia de um procedimento terapêutico moderno. É a mais antiga terapia utilizada na medicina. Os métodos, na maioria deles, induziam os doentes objetivando sua cura.
Havia, como assinalou Freud, certa “expectativa crédula”, que funciona de maneira igual até hoje e, assim, presta idêntico serviço aos pacientes transtornados. Ele também salientou que os pacientes nunca tiveram a intenção de abandonar as chamadas psicoterapias, quase sempre associadas com a sugestão.
Mesmo sem conhecimento mais profundo, utilizamos a influência da sugestão e, claro, devemos entender de modo mais cientifico sua técnica.
Outro aspecto enunciado pelo inventor da psicanálise: as psiconeuroses, especialmente, são muito mais acessíveis às influências anímicas do que qualquer outra medicação.
As psiconeuroses clássicas são três: histerias de conversão e de dissociação; as fobias (antigas histerias de angústias); e as chamadas neuroses obsessivo-compulsivas. Elas não são curadas por meio dos psicofármacos, mas sofrem alterações bastante saudáveis através da personalidade do médico, que, conforme sabemos, utiliza particularmente o método sugestivo para efetuar “curas”. A hipnose também implica a sugestão e já pode servir para compreensão dos fenômenos psíquicos, mas na atualidade não pode ser priorizada.
Se a cura desejada depende muitas vezes da personalidade do médico, então vamos pensar como pode ser a formação dele e de outros para a análise dos indivíduos acometidos por transtornos no campo do psiquismo. Sabe-se que a cura radical é utópica e idealizada, e, como já mencionava Freud, o tratamento analítico tem muitas peculiaridades que o distanciam do ideal de uma terapia. A procura do conhecimento deve ser mais importante do que essa cura tão discutível.
O leitor ficará pasmo ao saber que Freud indicava a psicanalise para pessoas com certo grau de formação e com caráter digno de confiança, que têm um estado normal, não degeneradas psicopatologicamente e não viciadas em tóxicos, além dos indivíduos idosos, embora estes já não sejam educáveis. Para mim, os humanos em geral podem ser analisados. O seu inconsciente pode ser conhecido, apesar das resistências próprias de cada um.
Os sonhos, as parapraxias e as emoções permitem e possibilitam o método psicanalítico. Nunca se deve ter pressa na relação com cada analisando. A possibilidade que traga prejuízos deve ser considerada, mas vale a pena correr riscos muito raros. As recaídas sintomáticas, na maioria das vezes, produzem conhecimento sobre o inconsciente da pessoa. Já mencionava Freud: essa terapia baseia-se no conhecimento de que as representações inconscientes, em sua grande maioria, são a causa imediata dos sintomas patológicos. Para o psicanalista é fundamental buscar e encontrar algo do inconsciente, para, assim, reduzir e tratar dos sintomas. Ele também deve levar em conta que existe em cada processo anímico essencial profundo, algo de resistência que impede e bloqueia a expressão mais livre do inconsciente.
Para nós, é claro que a constituição psicossomática de cada indivíduo pode facilitar ou não o conhecimento dos conteúdos inconscientes. O desvelamento e suas traduções, muitas vezes imersos em dor e sofrimento, sempre alimentam resistências.
Insisto: os elementos anímicos sexualizados ou agressivizados fazem aumentar as resistências e há, muitas vezes, uma contribuição constitucional. Tudo deve ser mantido no inconsciente e as resistências assim se apresentam. Dessa maneira, o enfermo insistentemente continuará enfermo, mas o método psicanalítico também deverá buscar a diminuição das resistências. Nunca podemos esquecer que cada neurótico tem aversão ao descobrimento de sua intimidade pelo recalcamento e pelas resistências envolvidas.
Como formar um psicanalista? Melhorando o conhecimento de sua personalidade por intermédio do estudo, das supervisões e da análise individual. Esses três complexos pilares modificam a capacidade e conhecimento para o quase "impossível" ato de interpretar e psicanalisar os pacientes.
A leitura dos textos, acredito, deve começar com Freud, depois Lacan, Bion, Leclaire, Green e outros, nessa ordem. Tal estudo nunca termina enquanto houver cognição. Nos grupos de estudo ou de modo solitário, sempre deve haver uma busca pelo saber metapsicológico. A supervisão é apenas outra visão sem superlativo algum, mas ajuda principalmente os analistas iniciantes.
Para finalizar esses breves enunciados, a psicanálise individual, chamada muitas vezes de psicanálise didática, deve ser feita. Cuidado: didática não pode significar dinástica. Ou seja, deve-se diferenciar sempre o didatismo da dinastia monárquica. A monarquia e os eleitos estão longe de nosso complexo campo operacional.
Minha próxima narrativa será acerca do Complexo de Édipo, descrito como “o complexo nuclear das neuroses”.
LOGOS
Ainda navego,
sem rota estabelecida, na metafísica:
uma cadeia de vocábulos desconhecidos,
poema vazio.
Página branca, sem nexo,
sem verso, sem sexo.
Um soneto morto.
Absorto navego torto.
Imagens caleidoscópicas.
Absorto, debato-me na metafísica, no porto.
Navego e navego.
Às vezes, escuridão
calma de um lago.
Existo, insisto,
despedaço-me.
Por que a vida?
Por que pensar
se tantas contradições permanecem
na barulhenta praça da dúvida?
Por que tantas interrogações?
Margeio o abismo do sonho.
Tristonho, vislumbro
e cismo com imagens revoltas.
Navego ou voo.
Mesmo eu voo?
Tento decifrar-me.
Acaso e ocaso dançam, sem flecha,
sem lança, sem cupido.
Procuro alguma lógica.
Algum logos, referência.
Religião ou ciência?
Ciente do non-sense, estremeço.
Creio que mereço navegar sem rota.
Sem significação e na solidão torta.
Tudo parece não ser nada,
nessa vida com sentido e desrazão.
As palavras cada vez mais distantes
das coisas. Tão distantes da significação.
As palavras como espelhos da mentira.
Logos, logos, em cada mão.
E uma procura sempre malsucedida.
Os prólogos eternos.
(Poesia de minha autoria)
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