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34. A natureza da ideia incompatível

25/02/2019​

Antes de enfocar as características básica do Complexo de Édipo e do Complexo de Castração, farei algumas observações que foram assinaladas por Freud já em 1894: “As neuropsicoses de defesa”, nas quais ele procurava mencionar a natureza do sistema inconsciente, bem como uma teoria fundamental das catexias, dos investimentos psíquicos como recalque e defesa: contra investimentos.

Escreve sobre tentativa de uma teoria psicológica a partir do conhecimento da histeria na explicação de fobias, obsessões e de certas psicoses alucinatórias. Existe nesses quadros psíquicos um “splitting”, ou seja, uma divisão da consciência acompanhada da formação de grupos psíquicos separados. Freud procurava analisar pacientes como nós, com "boa inteligência" e sem comportamentos "inadequados", já brevemente descritos na CID-10 (Classificação Internacional de Doenças-10) e DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição). Ele observou as inúmeras contradições que existem em cada um de nós e procurava a natureza íntima delas. Por exemplo, alguma ideia poderia ser incompatível com certo orgulho e na maioria das pessoas não há "degeneração" individual ou hereditária.

A percepção de algo incompatível no psiquismo de alguma pessoa (todos nós) diz respeito a certa interdição e esse certo indivíduo vê-se de modo desconfortável, castrado. Isso será tratado como foi enunciado antes no Complexo de Édipo e no Complexo de Castração.

Ele enfocava claramente as divisões do psiquismo nas manifestações histéricas, fóbicas e obsessivas e salientava que tais divisões, em suas diversas formas, transporiam grandes somas de excitação para a inervação somática. De modo muito evidente para nós analistas, o psiquismo sempre influenciou o corpo humano e é evidente que nosso soma sempre influenciou o psiquismo, quer ocorram comportamentos normais ou não articulados com a CID-10 ou o DMS-5.

Nesse trabalho, a explicação do termo conversão aparece pela primeira vez. Existe uma predisposição somática muitas vezes desconhecida que sofre influência de cadeias associativas e afetos originados no sistema inconsistente. Para o grande inventor da metapsicologia, ainda não eram claros os conceitos de recalque e defesa, um processo geral que estrutura o psiquismo e as defesas que objetivam dar mais força ao recalque. Porém, nesse texto é evidente que a ideia incompatível é boa para algumas partes do psiquismo e ruim para outras partes. Existem ideias dissociadas de outras ou convertidas nas inversões corporais. Hoje, histeria dissociativa e histeria conversiva.

Freud escreve no livro já citado sobre a divisão psíquica que existe nas obsessões e também nas fobias.

Em uma extensa nota de rodapé, explica-se melhor o conceito de ideia incompatível, que, como o leitor poderá refletir, fala de certa interdição, de certa castração, de certa incompatibilidade.

Essa nota procura demonstrar alguns erros de Freud ou confusões, talvez feitas objetivando lançar dúvidas tendo em vista o desconhecimento que ainda ocorre nos dias de hoje. Porém, parece que devemos considerar que existem coisas do psiquismo que nunca poderão ser explicadas para a estrutura das verdades sempre idealizadas e nunca absolutamente reais.
Tanto o recalque como as defesas encontram-se no âmbito das ideias incompatíveis, ou inconciliáveis, ou insuportáveis, ou intoleráveis.

Escrever sobre algo intolerável, incompatível, insuportável ou inconciliável assinala que há algo estranho no psiquismo, diferente e bem catexizado. Há algo que auxilia certa divisão. Assim explicava Freud sobre a incompatível ideia sexualizada no suceder das obsessões.

Hoje, e sendo bem fiéis ao pensamento freudiano, devemos pensar a sexualidade sempre vinculada com aspectos agressivos.

Vida e morte são os protagonistas do processo geral de recalque e também das defesas psíquicas. Na clínica, percebemos ao longo das sessões que a ideia incompatível por ser muito catexizada quer expressar-se. O inconsciente quer e deseja tornar-se conhecido, quer na chamada por Freud de compulsão a repetir-se ou na releitura lacaniana de insistência da cadeia significante. Palavras repetidas, sonhos, contradições, lapsos, associações estranhas, transferências marcantes e algumas associações, resistências poderosas e, é claro, muito mais sintomas que podem ocorrer.

A ideia incompatível invade o psiquismo do paciente e também por que não dizer do analista. Há algo estranho no ar. Até o silêncio pode querer expressar alguma coisa de modo indireto: o papel que o analisando quer realizar na figura do analista. Suas determinações inconscientes. Fazemos o papel de pai, professor, amante e algoz, para a expressão da chamada ideia incompatível.

Conforme se observa, cada ideia incompatível pode expressar-se na relação transferencial que, à época, não era compreendida por Freud e nem podia ser visível no contexto analisado, por falta do necessário conhecimento.


A próxima narrativa é sobre o poder simbólico. Nos discursos, além dos vestimentos e lugares, tudo é importante.

A NATUREZA E A LINGUAGEM

Tanto existe sem metafísica.
Árvores, peixes,
montanhas, casas,
crianças, índios.

Sem metafísica:
plantas, ursos, planícies,
castelos, estantes, sons.
Alvorada, estrelas,
poentes, noites,
luar, sol, crianças, neves.

O som das palavras,
as palavras impressas.
Tintas azul ou preta,
sobre brancos papéis.

Caracteres ordenados,
impressões despóticas,
na criação de inúmeros logos.

Tradição verbal,
tradução escrita,
formadas e deformadas
pelos indivíduos,
e claro,
pela metafísica de sempre,
como muitas outras coisas.


Poesia de minha autoria.

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