32. As diferenças sociológicas no mundo atual 2
11/02/2019
O atual Estado de direito é perverso. Piora as coisas necessárias para a fundamental diminuição da desigualdade. Versos, psicanálise e filosofia são inúteis, na maioria das vezes, para as mudanças necessárias, que nem sabemos quais deveriam ser. Ao menos, podem organizar um pouco nosso mundo interno e nossas interrogações mais profundas e inconscientes.
Um marxismo escolástico não pode alterar o status quo, mas certo marxismo em distante futuro pode ajudar na construção da cidadania. O novo homem, o camarada, pertence ao contexto das utopias, e somente leis verdadeiramente democráticas podem ser adequadas, justas e capazes para as mudanças.
É claro que todos esperamos muito essas mudanças. Agora, o verdadeiro alcance delas é algo, como falamos anteriormente, inimaginável. E somente em termos de um futuro bastante remoto, bastante longínquo.
Aí sim, poderemos imaginar um ser humano melhor estruturado e adaptado e, apesar das grandes diferenças, capaz de, em um mundo melhor, um mundo novo, diminuir a brutal, injusta e perversa distância entre os mais pobres, em sua grande maioria, e os ricos (conforme evidencia a observação do cotidiano, em várias partes do Planeta). Daí, a meu ver, todas ou quase todas nossas repetições. As mudanças aos poucos acontecerão, na realidade planetária e no psiquismo de cada indivíduo.
O contrato social, infelizmente, revela que as democracias são injustas. Nunca haverá um desejável consenso mais digno, mais verdadeiro eticamente. O mercado livre serve ao capitalismo. Encontra-se longe da real justiça. As classes sociais não são representadas no contexto do correto e básico. As minorias não têm força política alguma. O contrato social é um acordo hipotético. Não cabe nos limites da realidade. Liberdade e igualdade são conceitos articulados à linguagem humana. Não são fatos concretos ou naturais. Possuem historicidade associada à força e à coerção.
As eleições são verdadeiras caricaturas de liberdade e sempre submetidas ao poder econômico. Não sei como serão no futuro.
Michael J. Sandel assinala em seu livro JUSTIÇA – O QUE É FAZER A COISA CERTA nas páginas 159 e 160 (20ª edição, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016): "Apesar de sermos pessoas morais, os contratos sociais não são justos e são legitimados por ditames arbitrários e duvidosos. As contingências de modo consciente ou mais profundo, não garantem equanimidade do poder e afetam com alguma perversão a grande maioria dos indivíduos em cada sociedade humana."
As diferenças entre as pessoas não são realizadas no âmbito da justiça e muito menos da liberdade. As eleições brincam com a hipotética igualdade. O poder do desigual, poder econômico, influencia e legitima os enormes desencontros sociais. Assim o status quo não nos traz bons resultados.
O mesmo é verdadeiro para o capitalismo de estado de países que proclamavam o socialismo e obviamente nunca o foram. Este ainda não existe em praticamente qualquer lugar do Planeta. Talvez no futuro bem distante seja possível administrar a sociedade com um modelo mais saudável. Hoje, as contradições destrutivas promovem menos esperança e injustiças gigantescas. Nossas aptidões e talentos, mesmo os meritocráticos, não obedecem aos critérios da justiça. Encontram-se submissos às arbitrariedades perversas de cada sistema político.
A natureza da constituição ideal não existe, porque cada contrato social é moldado por elementos injustos discriminatórios, oriundos do poder econômico, como já foi apontado aqui. Portanto, nenhum pode ser neutro em meio a tantas contradições e contextos desiguais.
Falta de justiça e liberdade macula sempre a hipotética neutralidade de um mundo melhor. A desigualdade cresce, obviamente produz consequências obscuras e irracionais. É oportuno consideramos que uma pessoa moral é um indivíduo com os objetivos que ele próprio, livremente, escolheu. Nossa capacidade de escolha deve ser equilibrada entre nosso desejo e o do outro, na realidade humana, e sempre social. Nossa natureza vai se fazendo com o outro no meio das possibilidades. O "mais certo" é provavelmente o mais equilibrado no essencial conflito entre o Eu e o Outro. A liberdade é sempre uma questão de escolha e nunca um imperativo fora da autonomia de cada um. As inclinações não podem substituir os deveres para com os outros. Nosso imperativo categórico nunca poderá ser somente hipotético no âmago do individualismo. Difícil, muito difícil.
Desejo enfatizar outro aspecto geral que provoca consequências negativas. O mundo tende a ser conservador. O revolucionário e o novo criam expectativa de medo, muitas vezes. O novo, por ser novo, escapa dos hábitos e nunca é visto com tranquilidade. É uma tendência do indivíduo que espera algo ruim do novo. Algo nem sempre definível. Algo insólito. E assim caminha nossa humanidade, cada vez com menos esperança de um porvir melhor. Os costumes já amplamente conhecidos imperam. Homens livres para o novo são exceções. Um Estado neutro enaltece as liberdades de cada indivíduo e deveria ser também um critério em todos os direitos articulados à propriedade privada, e talvez até extingui-la em alguns contextos.
Na semana que vem continuaremos esse assunto.
METAFÍSICA
Teodiceia escatológica
arranha o silêncio e a vida.
Deus e o Diabo
brincam com o humano, com o desumano.
Juízo final.
Afinal de contas.
Castiga e abençoa,
soa alegre, soa triste.
Em espaço lírico,
impossível religião.
Entre criar ou repetir,
Deus e Diabo
Brincam com o destino de tanta gente.
Deus e o Diabo brincam,
lutam, sofrem, choram.
Ondas iluminadas.
Ondas em trevas.
Remanso
na extensão da calma
de tantas águas,
de tolas mágoas.
Diz Deus:
teodiceia e graça,
responde o Diabo:
teodiceia sempre escatológica,
nos castigos,
e plena de incertezas.
Ambiguidades mostram contradições
sobre estrada dialética.
(poesia de minha autoria)
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