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25. As causas ou a etiologia dos transtornos mentais 2

19/11/2018​

É importante salientar que Freud, já no início de sua obra, estabeleceu correlações entre a fixação e a teoria do recalque. Como vimos antes, aquele seria o primeiro momento do mesmo, capaz de instalar o próprio inconsciente. ​

Na carta a Fliess (nº 52), Freud faz algumas considerações sobre a estruturação da memória nos chamados sistemas mnêmicos. Mostra-nos que a falha da tradução de determinado material psíquico (o recalque, clinicamente) provoca algumas consequências. Assim, o material que não pode ser inscrito num determinado sistema mnêmico torna-se hipercatexizado, ou seja, fica possuindo uma eficácia anacrônica, capaz de gerar no futuro manifestações variadas, como sintomas, sonhos, lapsos, parapraxias, etc. ​

A presença dessas "sobrevivências", como assinalou Freud, implica termos algumas regiões do psiquismo que funcionam de acordo com as leis psicológicas vigentes no período no qual não se verificou a falha na tradução. Essas áreas, portanto, são anacrônicas e se constituem em verdadeiros pontos de fixação. ​

No tocante àquela carta, na qual aparece o primeiro esquema desenvolvido relacionado ao psiquismo, devemos esclarecer algo sobre o motivo da falha de tradução. Segundo Freud, é sempre a produção de desprazer que a determina. Se o indivíduo não vivenciasse algo como desprazer, a tradução poderia ser realizada. Aqui, a tradução de algum material psíquico implica sempre o desprazer, que pode ser evitado por meio do recalque, obviamente análogo à fixação. "É como se o desprazer provocasse um distúrbio do pensamento que não permitisse o trabalho de tradução". A ênfase de Freud recai sobre a hipótese de que toda tradução de algum material psíquico inibe a inscrição anterior, retirando o processo de excitação, a não ser que ocorra, como estamos descrevendo, a falha de tradução de um sistema mnêmico a outro, na estratificação da memória psíquica. ​

É útil, no momento, citarmos textualmente Freud na sua carta pré-histórica da psicanálise, mas que já contém importantes aspectos que seriam desenvolvidos muito mais tarde: "Certamente, não é por causa da magnitude da produção de desprazer que a defesa consegue efetuar a repressão. Muitas vezes, lutamos, em vão precisamente contra lembranças que envolvem o máximo de desprazer. É por isso que chegamos à seguinte formulação. Se um evento A, quando era atual, despertou uma determinada quantidade de desprazer, então o seu registro mnêmico, A I ou A II, possui um meio de inibir a produção de desprazer, quando a lembrança é redespertada. Quanto mais frequentemente a lembrança retorna, mais inibida se torna, finalmente, a produção de desprazer. Contudo, existe um caso em que a inibição é insuficiente. Se A, quando era atual, produziu um novo desprazer, então este não pode ser inibido. Nisso a lembrança está se comportando como se fosse referente a um evento atual. Esse caso só consegue ocorrer no âmbito de eventos sexuais, porque as magnitudes das excitações que eles causam aumentam por si mesmas com o tempo (com o desenvolvimento sexual). Assim, um evento sexual ocorrido numa fase determinada atua sobre a etapa seguinte como se fosse atual e, por conseguinte, não é passível de inibição. O que determina a defesa patológica (repressão), portanto, é a natureza sexual do evento e a sua ocorrência numa fase anterior".

Antes de tecermos algumas palavras a respeito de superdeterminação, devemos esclarecer que o conceito de fixação tem de incluir a hipótese de que o material psíquico permanecerá inalterável e sempre ligado à pulsão originária, anterior ao recalcamento, embora havendo um recalque do representante ideacional ou psíquico da pulsão (que não pode ter acesso ao sistema consciente) ou, em outras palavras, do material psíquico que não pode ser traduzido pertencendo agora a uma região anacrônica.

Desde "Estudos sobre a Histeria", em 1895, já havia em Freud a ideia da superdeterminação. Para ele, o sintoma histérico apresenta uma determinação múltipla: de um lado, os fatores predisponentes constitucionais e, de outro, diversas vivências traumáticas. Em outros termos, cada sintoma histérico desenvolve-se a partir de uma diversidade somatória e complementar entre fatores determinantes endógenos e exógenos.

Tal causalidade múltipla deve ser enfocada em dois aspectos fundamentais: 1º) os sintomas neuróticos como resultado de causas múltiplas (é importante considerar que estas mesmas formulações devem ser estendidas à etiologia das perversões, das psicoses e outros transtornos); 2º) em cada manifestação do inconsciente, também devemos procurar uma diversidade de cadeias associativas que se estruturam em cada nível, regidas por uma coerência interna.

Esses níveis estruturados por meio de significação múltipla remetem a amplas cadeias associativas, que tornam a análise interminável no sentido mais abstrato. Porém, na prática, devemos encontrar os pontos onde essas cadeias associativas cruzam-se, pois remetem a um significado comum, que deve ser explicito através de várias interpretações em contextos diferentes, para que se torne possível a obtenção da eficácia simbólica necessária à alteração dos sintomas.

Em outras palavras, é por meio dos pontos onde se cruzam as cadeias associativas que podemos chegar ao núcleo patógeno a que se refere Freud. Ou seja, por meio da condensação e do deslocamento entre as várias cadeias associativas que clinicamente irão sendo expressas pela associação "livre" produzida pelo analisando diante da presença do analista. Tal liberdade é relativa, uma vez que cada associação é determinada pelo inconsciente: representação meta.


Na próxima semana, seguirei falando sobre as causas ou a etiologia dos transtornos mentais.

ACASO

Telômeros homéricos.
Telômeros curtos.
Mementos do tempo.
Momentos do calendário.
Sucessórios, aleatórios
Tormento nos oxímoros.

Oxítonas dissonantes.
Estranho dicionário.
Morosos baratinos.
Estranhos desatinos.
Membrâmula: choro, silêncio.
Meros momentos em tempos
de travessia.
Meros movimentos.

Telômeros e transtornos.
Mermar das mesclas.
Virtude, hoje mexinflório.
Monocórdio ritmado
das vidas.
DNAs amarrados
em telômeros.

Complexos cromossomos.
Nas almas, nos somas.
Combinações infinitas.
Pulsátil determinismo.
Míssil e heroísmo,
generalidades ou abismo?
Paz ou hedonismo.


(Poesia minha autoria).

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