23. Outras reflexões sobre a CID-10 e DSM-5
05/11/2018
A seguir, farei algumas críticas à CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) e ao DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que têm valor a respeito das formas de pensar relacionadas com os males que acometem o ser humano. É claro que ambas as classificações não podem ser somente estatísticas e não conseguem elaborar diagnósticos precisos, às vezes bastante discutíveis. Cada diagnóstico deve sempre estar a serviço, de algum modo, para o tratamento e intervenção.
Como se sabe, também, o DSM-5 mudou de algarismo romano para arábico, ou seja, de V para 5, para facilidades de digitação negligenciando a história (parte da história romana).
Para nós, por influência midiática da psicofarmacologia, da psiquiatrização de quase tudo e das chamadas psicoterapias, os diagnósticos foram ampliados e estendidos, verdadeiros ou não. Quase ninguém escapa de alguns rótulos.
O "estar bem" na moda e muitas vezes critérios influenciados por vários remédios obedecem aos apelos midiáticos. A indústria farmacêutica pressiona em direção ao uso de ansiolíticos e antidepressivos, estabilizadores de humor, remédios inúteis muitas vezes. É lógico que ganha milhões de dólares com tais invenções "magníficas" que curam qualquer anormalidade. A psicoterapia não deixa de ser um procedimento para tratamento da maioria dos transtornos dentro do modelo médico, que é muitas vezes incapaz de melhorar o sofrimento em direção à cura no contexto de teoria e prática bem fundamentadas. Também devemos lembrar que tanto a CID-10 como o DSM-5 podem funcionar como verdadeiros documentos cartoriais e jurídicos para estabelecer ou retirar a plena cidadania.
Tudo isso não ajuda o Planeta e pode inclusive piorar as coisas no contexto ético, político, social e, obviamente, no econômico, sujeito às leis de mercado e suas perversões claras.
O normal e a anormalidade caminham nas entrelinhas da história e das lutas sociais. O conflito de classes e de interesses expandem os diagnósticos. É muito difícil escapar de algum rótulo estigmatizante. Como se sabe, todos nós apresentamos alguns sintomas, muitas vezes apenas periódicos e sem profundidade.
Agora, cito algumas considerações sobre diagnósticos comuns que foram estendidos de modo impróprio e fazem sofrer os indivíduos com medicamentos desnecessários. Bulimia, anorexia, obesidade e compulsão alimentar periódica são nomes conhecidos, midiáticos, que para nós analistas apenas significam modos diferentes de erotizar ou agressivizar a fome.
A quantidade maior ou menor de comida durante algum período da vida pode constituir-se em um diagnóstico e consequentemente tratamento. Também essas explicações valem para interesse obsessivo por sexo ou seu oposto, abstinência sexual. O transtorno absexual diz respeito ao indivíduo que normalmente é contra qualquer interesse erótico e se opõe ao sexo e qualquer alusão relacionada com a sexualidade. Interesse por dinheiro, pela internet e por jogos merecem abordagem psicanalítica. Não podem ser considerados como diagnósticos plenos e são normativos, às vezes, até punitivos, e assim por diante. Uma pessoa que oscila entre a excitabilidade ou a depressão não pode ser vista como bipolar, diagnóstico muito utilizado nos dias atuais, chegando às vezes até ao modismo.
A história de cada um dos indivíduos e como a linguagem se estruturou neles como amplas cadeias associativas e pensamentos múltiplos são objetos de saber metapsicológicos. Transtorno de atenção e hiperatividade hoje são "demasiadamente" muito comuns. Luto não é melancolia. Interesse nem sempre é vício. Dependência pode esconder desejo de liberdade. Diagnóstico pode esconder algum não saber acerca do indivíduo que sofre. Fobia pode ser apenas um medo apavorante. Nada do que estamos enfatizando agora pode ser considerado como anormalidades que mereçam o rigor de normalização a serviço do poder e da elite psiquiátrica. Diálogos e mais diálogos podem ser bastante úteis. Estamos considerando o indivíduo e sua singularidade.
No exercício médico, o diagnóstico é feito assim que possível. É desejado imediatamente por estar objetivando um tratamento. Somente vários encontros tornam viável um diagnóstico na psiquiatria.
O diagnóstico surge no decorrer de encontros, com todo cuidado possível. Diagnósticos imediatos possuem valores bastante relativos. Sempre é oportuna a lembrança dos chamados rótulos estigmatizantes, em geral produzidos no âmbito do poder e com alguma finalidade perversa. Devem ser sempre evitados a partir de nossas limitações e, sobretudo, se levando em conta a moralidade e a ética dos indivíduos.
Para encerrar está pequena narrativa, devemos considerar que normalização costumou ser relida como normatização por Foucault e sua escola.
Na próxima semana publicarei um capítulo separado em cinco pequenos textos sobre as causas ou a etiologia dos transtornos mentais.
SANTIAGO
Todo fué para nosotros,
noche y sombras de sangre.
Todo mató muchos sonrisas.
Todo fué solo luto y teniebras.
“Un pueblo sin memória
es un pueblo sin futuro”
Ocho es poco y sin memoria
no puede haver humanidad.
No hay felicidad.
Más, no se desaliente.
No se dice Allende.
Entre el ocho:
personas con angustia caminan.
Entre el ocho:
vida o muerte.
Derribando cuerpos,
golpea todos los silencios,
que te esperan.
Solo y solo,
dolor y sangre.
Tanto para desfalecer.
Madres atravesadas por la angustia.
“Um pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro”
La muerte va derribando cuerpos y almas.
Pinochet, usted no entiende:
no si puede decir Allende?
Hoy es muy fuerte el viento blanco y la corrupción
en todo el mundo!
Dice Borges:
“Los enterraron juntos.
La nieve y la corrupción los conocen.”
Todo fué para nosotros, noche y sombras de sangre. Adiós democracia.
Carlos Roberto Aricó
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