21. DSM-5
22/10/2018
É muito pertinente, dada sua relevância, fazer algumas considerações sobre o DSM-5, que é o mais recente e reúne os psiquiatras mais importantes do Planeta, com sucessivas edições ao longo dos últimos 60 anos. O manual busca estabelecer os diagnósticos mais confiáveis possíveis e funciona como referência do modelo médico psiquiátrico. A seguir, pretendo evidenciar alguns aspectos significativos que devem ser considerados.
Os transtornos mentais nem sempre se manifestam isoladamente. Envolvem múltiplas categorias diagnósticas vinculadas à depressão e à ansiedade. Sempre que possível, o manual faz uma integração de achados científicos relacionados com a genética ou a neuroimagem. Quando objetiva estabelecer o diagnóstico de depressão, procura diferenciar qualquer sintoma relacionado com a reação de luto ou de perda significativa. Ou seja, nem tudo se trata de transtorno bipolar ou depressivo. Para Freud, eram diferentes o luto e a melancolia.
A quinta edição do DSM envolveu centenas de pessoas em um empreendimento enorme e permeado de méritos. O mundo interno dos indivíduos (abordado nos aspectos genéticos constitucionais e até psicanalíticos) e os fatos externos foram levados em conta, mas os diagnósticos não podem ser idealizados como um discurso final e verdadeiramente científico. "Em suma, reconhecemos que os limites entre transtornos são mais permeáveis do que se percebia anteriormente", observa-se na publicação.
Como é mencionado no âmbito do manual, as possibilidades de interação genéticas e ambientais que causam sintomas ao ultrapassar os limites "normais" do desenvolvimento humano são ilimitadas. Tudo é praticamente possível para cada indivíduo em um mundo cada vez mais complexo. Parece-me óbvia a relatividade do chamado "normal". Assim, os cuidados em psicodiagnósticos devem ser bem aplicados nas avaliações clínicas. Esse normal e equilibrado já foi descrito anteriormente, levando em conta vários processos relativos ao psiquismo. Parecem evidentes as complexidades envolvidas. Citando literalmente a DMS-5:
"Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes. Uma resposta esperada ou aprovada culturalmente a um estressor ou perda comum, como a morte de um ente querido, não constitui transtorno mental. Desvios sociais de comportamento (por exemplo, de natureza política, religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente referentes ao indivíduo e à sociedade não são transtornos mentais, a menos que o desvio ou conflito seja o resultado de uma disfunção no indivíduo, conforme descrito" (página 20).
É importante salientar que cada grupo homogêneo de pacientes não é inteiramente idealizado com o próprio diagnóstico. Assim, somente o estudo de cada paciente em profundidade é capaz de fornecer os necessários, quando possíveis, diagnósticos. Insistimos que o "normal" e a "norma" possuem uma objetividade discutível, complexa e até negável. Os critérios humanos são sempre de natureza interpretativa em suas essências.
No que diz respeito às chamadas formas leves de sintomas, que não sugerem gravidade alguma, podem ser encontrados em qualquer indivíduo e, portanto, o diagnóstico de transtorno mental seria inadequado. Algumas "anormalidades" pequenas podem ser encontradas em todos nós. Os limites são praticamente humanizados e alterados pelo desejo e a linguagem. Não devemos esquecer que, muitas vezes, objetivando maior rigor cientifico, é claro, na medida do possível, o DSM 5 permite diagnósticos múltiplos, de indivíduos com transtornos leves e inclusive de pessoas normais.
"Quando mais de um diagnóstico é atribuído a um paciente em um contexto ambulatorial, o motivo da consulta é a condição principal responsável pelos serviços médicos ambulatoriais recebidos por ocasião da consulta. Na maioria dos casos, o diagnóstico principal ou o motivo da consulta também são o foco principal de atenção ou tratamento" (página 22).
Muitas vezes, utiliza-se o diagnostico provisório, pois faltam informações suficientes para o definitivo. Como já mencionamos anteriormente, esse diagnostico nunca poderá ser considerado de modo absoluto e idealizado, mas, é claro, tem sua importância no contexto complexo da análise dos comportamentos humanos que possam exceder a "normalidade". Às vezes, também, a duração do transtorno pode transformar o diagnostico provisório em definitivo, isso acontece para o transtorno esquizofreniforme.
Na próxima segunda-feira, farei reflexões sobre a classificação e a psiquiatria forense.
SIMPLES DEMANDA
Quero pedir à noite
uma boca vermelha,
bem desenhada
por lábios carnudos.
Quero pedir à aurora
seios firmes e invasores
da boca,
depois da cumplicidade dos sorrisos.
Pedir quadril marcante,
marcado para doce maternidade.
Uma cintura de causar inveja,
desprezando alegre,
dimensões de outra
cintura bem feita.
Quero pedir
braços e pernas,
mãos, pés,
pedaços de erotismo,
queimados sol a sol,
na simplicidade dos trópicos.
Tudo como o diabo gosta
e os moralistas de plantão
só fingem não gostar.
Nesse mundo
de tantas aparências,
ainda resta o orvalho:
o trabalho simples
das madrugadas
na luz de certas manhãs.
Assim, talvez já nada peça,
além de pedir à noite
o preparo silencioso
de mais um orvalho.
(Poema de minha autoria).
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