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20. Psicofármacos na clínica psiquiátrica

15/10/2018

Quando se fazem pelo DSM 5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - 5.ª edição), por exemplo, tantas hipóteses diagnósticas possíveis, é importante levar-se em conta que o grupo de psicofármacos é o mesmo para o conjunto amplo de comportamentos classificados. Assim, vários diagnósticos esquizofrênicos são articulados aos mesmos psicofármacos conhecidos: antipsicóticos típicos e os chamados atípicos, ou seja, os da última geração, praticamente objetivando tratamento dos mesmos sintomas.

As ansiedades são tratadas com os ansiolíticos, principalmente os modernos, sempre os mesmos, e assim por diante. Para os estados depressivos, são indicados os chamados antidepressivos, às vezes associados aos estabilizadores de humor. Os quadros demenciais são tratados com alguns psicofármacos que não conseguem impedir a evolução das enfermidades, mas em geral atuam da mesma forma. Tudo isso para deixar claro que os inúmeros medicamentos são reduzidos, bem como os distintos diagnósticos feitos, inclusive por psiquiatras fanáticos em aspirações "pseudocientíficas" definidas.

O nome mais adequado para uma determinada enfermidade não significa um medicamento correto e específico para essa ilusória abordagem. Isso não possibilita estabelecermos uma generalização absoluta para os comportamentos humanos, na quase maioria das vezes particulares e, portanto, sujeitos à psicanálise. Mas, isso permite considerar que os psicofármacos agrupam-se de modo bem mais definido do que se acredita. Porém, a luta continua e devemos modificar os sintomas que prejudicam o ser humano dentro dele e em seus relacionamentos com os outros e também com a estranha realidade objetiva que costuma escapar do positivismo epistemológico. Todas as coisas costumam ser muito diferentes das palavras utilizadas para representá-las.

A realidade objetiva não exige só palavras. Qualquer classificação possível diz respeito às palavras. Nem poderia ser diferente, mas os diagnósticos não são idênticos aos fenômenos denominados "transtornos". Como se observa claramente, os sintomas aprisionam uma classificação específica no âmbito de uma generalização que, às vezes, não pode corresponder à realidade do psiquismo de cada um.

Já foi mencionado que cada indivíduo apresenta singularidade especial, mesmo sabendo que todos nós sejamos únicos e, portanto, com semelhanças. As instâncias legitimadoras de características sintomáticas e os próprios diagnósticos têm limites que influenciam a neutralidade, se possível mais científica. Certamente, dentro de alguns limites nem sempre claros.

O sujeito do discurso sobre o diagnóstico vive no mundo que existe. Obedece a certas instâncias legitimadoras. Obedece a articulações do poder no status quo. O discurso sobre diagnóstico em psiquiatria como peculiar à natureza do discurso humano, depende sempre do enunciador em determinado momento. O aqui e agora desse sujeito relativiza e ao mesmo tempo produz subjetividade. É claro que qualquer que seja o discurso da vocação cientifica, este implica procedimentos complexos, inclusive de validação, talvez mais simbólicos do que verdadeiros. Parece-nos fundamental a relatividade de todo saber cientifico, principalmente quando enfocamos o homem e suas vicissitudes.

O objeto desse saber é bastante complexo e simultaneamente o sujeito desse conhecimento é muito frágil em virtude de sua condição humana. O diagnóstico em psiquiatria não obedece a nenhuma linearidade possível e tampouco a generalizações tão comuns nas ciências exatas, físicas ou biológicas. As escolhas classificatórias são amplas e bastante problemáticas. São opções organizadas a priori por intermédio dos contextos psiquiátricos, muitas vezes elaborados a partir da ciência médica.

Do ponto de vista do rigor epistemológico, existem acidentes no percurso das elaborações diagnósticas em psiquiatria. Surgem rupturas que não colocam em questão nem o saber, nem o inteligível, na grande maioria das vezes. Em algumas ocasiões, as rupturas podem articular-se como descontinuidade e evidentemente podem engendrar problemas não só teóricos, mas também em termos clínicos.

Pretendo enfatizar aquilo que me parece bem importante em qualquer discurso humano: o sujeito de cada ciência influencia o objeto em estudo, ou gramaticalmente: o sujeito não consegue neutralidade científica e pode modificar o predicado. Assim, o sujeito do suposto saber faz a enunciação do diagnóstico dentro das estruturas de legitimação e produz o manual diagnóstico no qual estão estabelecidos os parâmetros necessários para algumas chamadas doenças ou “transtornos” do psiquismo.


Na próxima semana falarei sobre o DSM–5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - 5.ª edição).

SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

Subjetividade, modismo,
abismo entre o igual,
descompasso no diferente.
Cada ente na civilização
hoje é semente da contradição.

Marcas, grifes, elites
originam-se no poder,
liberal ou totalitário.
O poder ultrapassa tudo.
Contudo,
cada pessoa morre,
agoniza
um pouco.
Com ou sem poder.

A mão do mercado,
mãe do poder,
ultrapassa tudo.
Individual ou coletivo,
brilha
o arquivo sórdido das diferenças.
Arquivo cínico das falsas cenas.
Cenáculo de desilusão.
Alusão em quase nada.
Valores ausentes, aparentes.
Ilusão em quase tudo.

Valores caóticos
e poderes despóticos.
Marcas, grifes, elites.
O humano drogado ou triste
a tudo assiste,
Algum insiste em viver,
nunca se desiste do poder,
aviltando ou iludindo
cada ser.
Existências combalidas,
entre diferenças e homogeneidade,
nessa civilização tão contraditória.


Este poema é de minha autoria.

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