2. O Poder
11/06/2018
As estruturas de dominação existem por todo o planeta e a evidência estrutural produz desequilíbrio social e econômico. Criam-se classes diferentes entre as pessoas. Assim um negro é um negro, apenas sob determinadas condições, ele pode e é transformado em escravo, dependendo dos perversos mecanismos de dominação: múltiplos e até desconhecidos. A violência estrutural produz efeitos de desigualdade bastante visíveis, por meio de uma estrutura ausente escondida nas perversidades do poder. A verdadeira história dessa estrutura, que infelizmente determina nossa sociedade, praticamente se perde e permanecerá, por enquanto, desconhecida. História que se perdeu no contexto dominador de sempre.
Também se mostra oportuno reforçar a certeza de que os conceitos não podem ser coisificados. Os conceitos são abstrações, são apenas ideias. Insisto: os conceitos não podem existir como coisas. A outra vida com Deus ou o nada do niilismo podem criar expectativas ou respostas, com esperança ou abordagem científica. O cidadão que estrutura a república ou a complexa civilidade só poderá diminuir o poder econômico na democracia representativa e suas divisões? Terá poder para criar um estado de direito no âmbito da neutralidade e com distribuição mais justa de certo capital civilizado? É difícil acreditar nesses caminhos mais decentes para o chamado homem novo.
A civilização, de verdade, não se sabe quando será estruturada. Certo civismo é sútil. A estrutura visível e, a mais importante, a estrutura ausente, criadas ao longo da história, portanto da realidade social, encontram-se muito influenciadas pela economia política. Tudo que foi acontecendo na economia, e nas forças produtivas a ela articuladas, foi subvertendo de modo rápido ou lentamente a colossal superestrutura. Leis jurídicas, partidos políticos, religiões, procedimentos artísticos, filosóficos criam as formas ideológicas nas quais os homens se relacionam com eles próprios e também com os outros homens. Cada sistema ideológico tem sua história e auxilia na manutenção de seus equívocos. Servem para validar sempre as estruturas, com mistério e sofisticação. As relações de produção e as forças envolvidas produzem a realidade social e modificam a consciência do homem. A história é apenas a história da luta de classes. Essa estabelece a ideologia entre a minoria dos que exploram e a maioria dos que são explorados no âmago do poder. Isso será muitas vezes repetido.
No dizer de Maquiavel, os políticos costuram seus homens muito perspicazes, hábeis ou astuciosos que estabelecem instituições ou delas trataram. Aqueles homens "Homines acutissimi" religiosos, ideólogos, filósofos, economistas, espertos, românticos, razoáveis, práticos, foram obviamente fazendo e exercendo a política, inclusive articulada com o psiquismo de cada um de nós. Razão e desrazão, poder e não poder, história, política e economia fabricam o ser humano, com mais ou menos corrupção, com mais ou menos ética, com mais ou menos igualdade.
Todos no planeta estamos muito distantes de um verdadeiro "Contrato Social". Este, como se sabe, muitas vezes costuma ser impregnado pelo ódio. Meu antídoto ao discurso do ódio? Leitura de textos e poesias. Esperança e perdão. Qualquer ação concreta associada ao discurso do ódio deve ser combatida. O indivíduo não pode agir sob influência do medo destrutivo. Não se pode banalizar a violência sempre articulada ao poder destrutivo da morte.
Uma democracia com menos ódio e menos punição deve crescer no planeta ou perderemos ainda mais o que nunca tivemos: justiça e transparência. As democracias que estão em jogo não funcionam e abalam gradativamente o equilíbrio e dignidade do ser humano em cada um de nós. Não acredito ser populista qualquer tipo de discurso que mencione as enormes diferenças entre a minoria elitista e a maioria popular.
Na próxima segunda-feira publicarei acerca de quem nos procura.
O PSICANALISTA
enterrei minha vida
entre quatro paredes
ouvindo, e ouvindo estórias
de pessoas aterradas
encerrei minha vida
cercada por muros,
o campo cerrado
habitado por enganos,
sempre e sempre o mesmo Édipo
incapaz de criar outro
destino.
Poesia publicada no livro "Tempo contra tempo", de minha autoria.
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