top of page

175. Pandemias

Como se sabe, ocorreram inúmeras epidemias no planeta, sendo que algumas até modificaram nossa civilização. De tempo em tempo, a história sofre por conta de doenças infecciosas às quais o sistema imunológico, quando acionado, não oferece resposta suficiente.

Na Grécia Antiga, em Atenas, entre os povos locais, uma praga desconhecida alcançou o Porto de Pireu, destruindo famílias e matando muita gente. Isso no Século V antes de Cristo. Cerca de um terço de toda a população foi dizimada, talvez por uma simples bactéria, uma salmonela causadora de febre tifoide.

Existem alguns cientistas que consideram que essa praga era uma epidemia de ebola. Não se sabe mesmo. Os enterros foram numerosos e coletivos e o desespero piorou ainda mais tudo que acontecia. Morte por peste modificou até os ritos funerários e o famoso século de Péricles mudou para pior, devido à doença, associada a más condições higiênicas.

No Século II depois de Cristo, chegou a Roma a peste antonina. Outra vez morte e desespero: as batalhas e uma nova doença destruíram inúmeras vidas. Foi considerada uma pandemia por atingir grande extensão de terras. Erupções negras, pústulas e diarreia.

Uma pandemia de varíola atingiu o México, Peru, Chile, Bolívia e Equador. As pessoas apodreciam vivas, sofrendo muito. Sangue nas fezes, tosse e perda de voz.

Entre 1347 e 1351, surgiu outra doença, então na Europa. A peste negra matou um terço de todo continente. Até o ano de 1.800 surgiram algumas ondas. Milhões de mortos.

A peste bubônica, transmitida pelo rato preto, iniciou-se no Século XVIII, na Ásia. A Igreja sempre considerou toda praga como um castigo de Deus pela postura negativa do homem na civilização. A Itália foi bastante atingida e as condutas boas eram convenientes e ajudavam a conter os impulsos inconvenientes.

As regras, as religiões, as democracias ou até várias ditaduras não conseguiram evitar a gripe espanhola, causada pelo vírus influenza H1N1. Cerca de 50 de milhões de pessoas morreram no mundo todo e muitos adultos e jovens pegaram a doença.

Foi atingido um quarto da população mundial. Uma pandemia nova. No geral, ocorreram cerca de 13 epidemias no século XVIII e 12 no século XIX, sempre comprometendo, até com fatalidade, as vias respiratórias. Há dúvidas quanto ao surgimento dessas doenças. Munch, Klimt e Virginia Wolf, bem como outros artistas, estiveram envolvidos de certo modo com essa terrível peste.

No Brasil, segundo as autoridades, tudo era diferente e essa gripe nem era transmitida. As piadas, as mentiras e o descaso inventaram para o nosso país uma doença diferente do resto do mundo: aqui ninguém morria. Porém, já se sabe de inúmeros cadáveres jogados nas ruas, corpos sem vida que foram denominados de bêbados. Morriam as pessoas em massa, como no restante do mundo.

Fábricas, escolas, restaurantes e clubes. Tudo fechou. Muitos pediram para a gripe ir embora do País. A doença era atribuída ao desgoverno, às administrações inadequadas e ao fantástico aumento do custo de vida. Muita gente morreu em um contexto de conflito, de guerra e até mesmo pela falta de remédios apropriados.

Na década de 80, surgiu uma estranha doença que atacava os jovens homossexuais. Uma neoplasia maligna pouco comum, oportunista, relacionada a um vírus novo, o HIV, causador de uma imunodeficiência humana, logo chamada de "câncer gay". Muito preconceito, pouca ciência.

Em 1982, a doença passou a se chamar SIDA: síndrome de imunodeficiência adquirida, ficando mais conhecida globalmente pela sigla em inglês: AIDS. A explicação mais aceita para seu surgimento foi uma provável mutação do vírus da imunodeficiência símia (SIV), presente em macacos verdes e chimpanzés na África Ocidental, que originou o HIV. Seringas, transfusões, relações sexuais sem preservativo e aleitamento materno misturavam sangue e produziam a SIDA. Vários antivirais auxiliaram no combate vitorioso dessa terrível doença.

Tanto o HIV-1 como o HIV-2 (mais encontrado no continente africano) inserem seu DNA no genoma das células hospedeiras e assim fazem cópias de si mesmas, enviadas para infectar outras células sadias. Hoje, com uma droga, um comprimido, feito com vários antivirais, a doença é controlada e às vezes até eliminada.

Muita gente morreu. Na periferia do Castro (região com grande população homossexual em São Francisco), as mortes, o medo e o desespero, como em outras “pestes ou pragas divinas”, criaram incertezas e vida curta, até a chegada dos antirretrovirais.

Recursos internacionais combateram a doença em todo o Brasil. Sua ocorrência era bem mais recorrente no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Foucault, A. Perkins, Freddie Mercury e Nureyev. No Brasil, Sandra Bréa, Cazuza e Renato Russo foram alguns dos que partiram antes.

A pandemia mais recente, não há dúvida, é causada pelo novo coronavírus. Foi detectada em Wuhan, na China, e anunciada ao mundo no dia 31 de dezembro do ano de 2019: COVID-19.

Pangolim e morcego fizeram a transmissão deste contemporâneo pesadelo a partir de zonas tropicais dos continentes africano e asiático. Secreções entre humanos, como contato com mucosas (nariz e orelhas) fazem a nocividade desse novo terror, que enfrentou o negacionismo em nosso continental país.

Repetiu-se o movimento contra a imunização iniciado em 1790, junto com a descoberta da vacina contra a varíola. Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, há protestos contra as vacinas: elas funcionam? Contém substâncias tóxicas para o organismo humano? Os médicos nos mandam associá-las com a farmacologia e nós obedecemos.

A chamada ditadura chinesa obrigou o isolamento e pode contornar as dificuldades na sua luta pela vacinação. A eficácia da vacina continua questionada. Os óbitos e essas doenças respiratórias continuam existindo em todo o planeta.

Usar ou não uma vacina feita de tecnologia do vírus ativado capaz de mais eficiência sempre dependerá da crença, algo análogo, em alguns contextos, à ciência. Para nós, é difícil negar os efeitos das variantes do vírus que, como todos os outros, produz mutações, muitas vezes fatais.

SILÊNCIO?

forte barulho
desmorona silêncio.
Temor da alma,
morrer-se na calma.
O barulho cresce.
Ultrapassa todos os limites.
Faz nos ouvidos,
um tempo caótico.
Anedótico pulsar de sons
agora, silencio.
É utópico.
Depressa nosso interior
menoscaba nossos ouvidos.
Ruídos pelos sons,
maltratados pela lógica
do modernismo.
Abismo de cada um.
Barulho pesado.
Absoluto enfado.
Absoluto. Barulho,
barulho, joga fora
nosso orgulho,
nossa vontade
sem maldade
no silêncio.
Este sempre caminha
longe.

Carlos Roberto Aricó

© 2023 por Nome do Site. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook
  • YouTube
  • Instagram
fim%20do%20vi%CC%81deo%20(3)_edited.jpg
bottom of page