167. As palavras na comunicação 3
Não há resposta para tudo e nem a evolução da ciência pode fundamentar o desconhecido, com novos conceitos e novas palavras. As verdades construídas pelo homem nunca serão completas e a ciência também não conseguirá dar conta.
Face às questões inúmeras não respondidas, a humanidade criou Deus, o super-homem, capaz da gênese do universo e de tudo. Força, poder, sabedoria, vida, morte, luz, mistério, causa e ordem. É óbvio que existem os que acreditam e os que não acreditam. Quem está com a razão? Nunca se sabe. Nós, os humanos, temos medo e fascínio. Ele tem tanto poder e nós, quase nenhum. Sentimentos religiosos ou crença no inefável e na ciência parecem existir dentro de nós. Inferno e céu também. Mistério e revelação. Bem e mal. Palavras e silêncios.
“Todos vão para o mesmo lugar, vieram todos do pó e ao pó todos retornarão.” Esta frase bíblica encontra-se em muitos cemitérios. Sabemos que nosso corpo decompõe até os ossos. É mais fácil ver nos cremados. Ele será apenas marca de uma ausência. No espírito do homem, provavelmente, só as palavras podem permanecer certo tempo. A morte cria os limites de cada corpo que retorna ao pó. As palavras permanecem. Nossa linguagem nos espiritualiza apenas na vida, sem constante desrazão, ilógica e insensata. Nesse contexto, não é tão difícil a crença na grandeza de Deus e suas histórias múltiplas.
A limitação humana pelo ilógico e pela morte produz a grandeza divina, que vai existindo sem muitas transformações e mudanças. Sua história é permanente, como nossa fragilidade. A sabedoria consiste em colocar sobre a figura divina todas as nossas impossibilidades de conhecimento do futuro, da morte e do depois.
Muitos loucos sabem, ou melhor, pensam saber tudo. Não há dúvida alguma. Possuem o discurso ou fala da certeza e da verdade. Não podemos e não conseguimos aceitar isso. “Nessa vida sem sentido eu já vi de tudo.” O justo pode ter morte injusta e o impiedoso pode ter vida bem longa. Não sabemos o porquê.
Certo livro já foi citado aqui e será abordado ainda. O “Eclesiastes”, antigo testamento bíblico, que significa aquele que reúne ou professor/pregador.
O famoso livro data o período entre 450 e 180 A.C. Talvez tenha sido escrito em sua parte maior pelo sábio Salomão, filho de David, rei em Jerusalém. “Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque isto é o tudo do homem”.
ALÉM
Braços, peitos,
pernas, rostos, lábios,
tudo me ultrapassa.
O tempo ainda não.
Assim oscila entre a vida,
morte.
Insisto, como insisto.
Daqui a pouco
desapareço.
Renasço, nem sei.
Se não sei renasço.
Para quem? Por quê?
Sei lá, nunca sei o que
é bom de verdade.
Saber … saber … enche.
Tropeço no instante,
no Deus ausente.
Pranto, só o pranto presente.
Carlos Roberto Aricó
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