165. As palavras na comunicação 1
Acredito que todos nós sabemos que há muitas formas de comunicação na natureza. Sons e cores anunciam alguma comunicação significativa. Antenas e movimentos também produzem mensagem de sobrevivência.
Sabemos que alguns símios começaram a falar, depois a escrever. Assim, o ser humano progrediu, abandonando a natureza, pelo menos nos aspectos mais relevantes.
Já somos muito diferentes da natureza em sua questão biológica. Construímos civilizações com monumentos, história e cemitérios. A técnica evolui de modo assustador. Enxergamos muito mais do que os olhos. Alcançamos muito mais do que as mãos. Tudo vai modificando bastante a natureza, que agora nos serve e só raramente parece que vai destruir o humano, por intermédio de vírus, terremotos, vulcões e inundações.
Fazemos arte para brincar com a vida. Variamos nossos costumes e linguagem. Surgem as tradições. Hoje, temos até os territórios e terríveis traições.
O homem modifica quase tudo. Porém, não sabe quase nada sobre o futuro ou conhece algo sobre a morte. Depois dela nada se sabe. As palavras, os poemas, a literatura e todo o enorme avanço tecnológico não conseguem diminuir as dúvidas, e nossa verdade é apenas fragmentária, inconsistente e frágil.
A ciência evolui de maneira clara, mas não consegue responder as perguntas que vão surgindo em cada descoberta. O universo grande e o infinitamente pequeno produzem mais dúvidas do que respostas.
As leis, os estudos e as políticas sempre se originam a partir de costumes e etnias bem-localizados. Eram anteriormente como totem e tabu e hoje são nossos códigos cíveis e penais, ultrapassados em várias situações humanas, que transcendem à lógica cartesiana do “penso, logo existo”. nessas situações extremadas, a razão perde as forças adquiridas e fortalecidas principalmente no Iluminismo francês.
Leis, políticas, estatutos, tudo feito de linguagem. As palavras vão produzindo comportamentos.
Leitor amigo: agora, vamos enunciar algumas reflexões sobre a natureza íntima das palavras, depois utilizadas na linguagem.
GENTE
Olhos vermelhos.
Sem euforia.
Ausência, imperfeição.
Desejo de viver à margem.
Inóspita, civilização.
Contradição eterna.
Terna enunciação.
Habitada por melancolia,
macia ao tato.
Só leveza, alma,
calma, serena,
na poesia,
cotidiano.
Dia a dia?
Choro e chôro.
Mesmo triste, absorto.
Vivo, não morro.
Atento, não morro.
Carlos Roberto Aricó
.png)


