163. Esperança e medo
Uma pessoa armada, militar ou civil, forte, com poder, manda. Talvez também obedeça. A força é inegável. Faca, revólver, bomba atômica, fuzil, tanque e capacete... A ternura, o amor e bondade desaparecem. Some tudo o que existe de bom na humanidade.
Agora, só a dor, a maldade e a desigualdade mandam e se espalham. Os donos do poder aparecem, se necessário. A paz torna-se impossível.
A civilização tropeça no bom senso. Muita tristeza abate o mundo, dito melhor. Sobram restos e uma minoria parece passar bem. Restos e riscos proliferam-se e as grandes multidões vivem no medo. Medo de alguns que mandam e organizam as leis. As regras serão mantidas a ferro e fogo.
O rótulo democrático prospera e dá nome à civilização contemporânea. Democracia é o terreno perfeito para a mentira. O perigo e a liberdade caminham juntos. As armas servem e não servem. Evitam e cansam. Destino e desatino na incerta natureza.
É claro que parece cada vez mais raro um tempo sem obediência e sem opressão, pois existe o que manda, e a maioria tem de obedecer. O lugar, até mítico, da esperança e da alegria diminui. São difíceis as defesas face a tantos ataques originados na desigualdade.
Nenhuma palavra ou até ação é encontrada fora da desobediência. Não há um tempo em favor de um tempo bom para enfrentar a sórdida desigualdade. É difícil o encontro do tempo e do lugar para a luta, para uma verdadeira revolução e desobediência às regras impostas e dominantes. Lucidez é sempre pequena diante de tanta fúria. Uma aparente normalidade hoje significa abandono e calma ideológica. O ser humano não consegue vislumbrar nenhuma hipótese de revolta e de luta.
Esperança e medo alteram o equilíbrio. Assim, as coisas vão transformar-se lentamente. Porém, mudam, e isso é bom e oportuno na direção de uma civilização melhor. O homem tem de criar uma espécie melhor, com mais justiça e sempre levando em conta os outros, o meio ambiente e todo universo. Civilizar-se é isso.
MUDANÇA
Trabalho do tempo
incansável.
Agônico tormento.
Cada porta
fechada.
Sempre fechada.
Aberta: o nada.
O vazio desaba.
Outro lado:
mesmice.
Eterna tolice.
Sempre, sempre,
o mesmo.
A esmo mais um nada,
e nunca se acaba.
Cronos em pé
nunca desaba.
Carlos Roberto Aricó
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