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147. O incêndio da estátua

31/08/2021

Se a verdadeira história não for bem esclarecida, de modo mais profundo inclusive em certos detalhes, os fatos repetem-se, por meio da associação entre o poder de sempre das elites com a ignorância. Deve-se salientar a estúpida meritocracia e o pacto bem narcísico para atingir a "branquitude" dos poderosos brasileiros e sua orgulhosa e falsa supremacia, que não deveria haver nunca.

A inteligência social diz respeito a certa igualdade de oportunidades, ao menos no início do caminho entre os homens e seus poderes limitados. Não podem os personagens coloniais, antigos, serem homenageados até os tempos de hoje.

Os bandeirantes, como ensinam vários professores, expandiram os limites do Brasil e foram homenageados com o nome de estradas, estátuas e outros monumentos. Não costumavam explicar o trabalho associado ao poder de príncipes, monarcas e imperadores. Não explicaram as articulações bem negativas entre os bandeirantes e o poder das minorias.

O povo sempre foi ameaçado, praticamente sem exercer poder ao nível de seu desejo. O povo nada podia. Os mandantes podem tudo. A vergonha e a violência ficavam enevoados, como acontece até hoje. Exemplos negativos que evocam devidamente a luta de classes envolvida.

Parece claro que monumentos e estátuas estão em nossa vida pelas ações corretas e, portanto, são figuras que merecem as homenagens feitas, em geral pelo poder público. Muito recentemente, a estátua de Borba Gato foi queimada e se prenderam pessoas pelo ato. É oportuna a lembrança de que esse bandeirante estava a serviço da barbárie, embora seja possível que tenha realizado algumas coisas positivas.

Borba Gato escravizou pretas e indígenas com a necessária violência e desamor. É fundamental entender o passado e seu viés ético. Revelar o bom no passado, na história, ajuda a melhorar a civilização. Borba Gato, ao que tudo indica, só melhorou as coisas para as elites do País. Sempre esteve a serviço do poder e, por isso, fez o que fez. E foi homenageado.

Existem muitas pessoas, até com cultura, que não pretendem mexer no passado e só cuidam do presente, pensando que o passado não muda nada no presente. Acredito ser sempre oportuno mexer na história, pois a ela ensina muito a cada um de nós. Em geral, sem o conhecimento do passado serão repetidos erros que poderiam ser evitados.

Qualquer debate por meio de vandalismo, fogo, destruição e violência não pode ter tanta validade, pois opiniões positivas e negativas maculam qualquer argumento voltado a objetivar algum conhecimento da história. É importante realizar pesquisas na busca do saber verdadeiro, que pode, sim, modificar nossa interpretação do passado. Tudo merece mais de uma leitura.

O poder, quase sempre autoritário e oligárquico, faz uso constante de violência policial a serviço das regras do jogo e, como já foi escrito antes, neutraliza a luta de classes. Pobreza e racismo complicam tudo, facilitando as ordens da elite. Agitações são consideradas desordem e, assim, são perdurados os privilégios sociais em todo o planeta.

São Paulo e os bandeirantes tiveram um papel importante no cenário brasileiro, com domínio no poder e na economia. Com a chegada da República, até os valores políticos foram se modificando para melhor. No imaginário das elites dominantes, os proprietários paulistas negaram a ficção e aumentaram o tamanho do País e o poder, graças à coragem e à bravura dos heróis bandeirantes.

Caro leitor, que fique bem explícito: prender o sujeito que queimou a estátua é tão discutível quanto homenagear pessoas sem discutir profundamente o perfil histórico e contextual do homenageado.

VIDA

Crispa e fagulha
paixão abrasadora…
causa muita dor.
Até quando?
Cinzas emergem do fogo vencido,
que sem sentindo,
já não queima mais,
e nesta vida tão sem vida
diminuam os ais
gritos, nunca mais.
Mais…
até quando?
Tudo tão demais.

Carlos Roberto Aricó

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