top of page

146. Nós e o universo 2

24/08/2021

A escuta pode ser algo bom ou bem negativo. O narcisismo do outro pode ser implacável e invasivo. Invade nossa calma e inclusive nosso corpo de alguma forma desconhecida. Pode ser, no limite, paralisante, improdutivo, desagradável.

Numa escuta boa, as palavras sugerem respeito e o orador fala de qualquer coisa e isso consegue nos mobilizar. Alguém fala com o outro e ambos crescem, ou no mínimo serve para alguma coisa.

Eu até vivo de escuta como psicanalista, procurando o inconsciente. Sei que o meu silêncio ou o do outro incomoda. Às vezes, procuro e encontro o inconsciente do outro, mesmo quando ele quer esconder-se, não querendo revelar-se, colocando sombra em tudo. Mas, felizmente, a luz vai aos poucos revelando. Há vezes em que eu mesmo não quero encontrar nada ou até quero fugir para outros lugares. Minha distração pode produzir algo ou apenas corresponde à minha fuga. Estou lá ou finjo estar lá. Nada é constante. Procuro, tenho medo, angústia, sono. Muitas vezes, procuro, acho, e nada posso dizer ou não consigo dizer nada. Minha escuta já é apenas interpretação do ouvido.

Trabalho como tenho escrito no âmbito das palavras. Tudo erotiza ou torna agressivo cada vocábulo. Não há neutralidade em cada som ouvido ou escrito. Tudo sofre influência até dos outros, das estrelas, dos planetas etc. O nível de influência pode ser mínimo, mas os procedimentos científicos vão revezando até as pequenas mudanças. Isso não tem fim, não tem limite.

Entre mim e qualquer outra coisa, inclusive humana, podem criar-se desde pequenas alterações até as enormes e significativas mudanças. O universo é assim e cada parte sua também é assim.

Somos corpo, mente, consciente, inconsciente. Somos células, átomos, sangue, fluidos. Tudo gravida em tudo, em cada parte. Nós, nossa individualidade, o universo todo, caminhos, ações, reações múltiplas.

TUDO BRANCO

Angústia, branco papel
Inferno e céu
atormentam meus dedos.
Palavras, apelos
transtornam meus dedos.
Rápido o movimento.
Triste sentimento.
Papel branco, muitas ausências.
Impertinências na alma.
Condolências ao silêncio
desafinado silêncio
brotando no mundo
palavras, silêncio, eco.
Vazio o som, sem tom.
Tudo quieto, tanto sem eco.

Carlos Roberto Aricó

© 2023 por Nome do Site. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook
  • YouTube
  • Instagram
fim%20do%20vi%CC%81deo%20(3)_edited.jpg
bottom of page