143. A história do NEPP (Núcleo de Estudos em Psicologia e Psiquiatria) 1
03/08/2021
Nossa memória conta e narra os fatos com palavras e imagens que parecem escapar do tempo. A partir do meu mundo interno, pretendo evocar o passado no qual o saber inconsciente estabelece uma escolha para esse difícil objetivo.
As coisas e os fatos, como tanta história, pertencem ao passado, às palavras e imagens antigas que alimentam nossa memória e se estendem sobre o vazio do evidente desaparecimento. Muita história extinta com a naturalidade da vida.
Hoje, o Sol e o Norte são outros, mas é sempre importante recordar um passado poderoso e, assim, seguir vivendo. Novos nomes, imagens e fatos estruturam uma nova realidade.
No final da década de 70, cinco médicos, eu inclusive, decidiriam inventar e estruturar o NEPP, porque, mesmo estudando com professores da Associação Brasileira de Psicanálise, não aceitamos que somente essa boa instituição fosse a única na formação de psicanalistas.
Isso ocorreu durante décadas, nas quais o saber freudiano era estimulado e a formação de especialistas era desenvolvida com muita capacidade.
Vejam, leitores: nunca aceitamos que um só lugar, bastante elitista diga-se, representasse nossa complexa formação com o objetivo claro estabelecido nos textos e Freud, Bion e Lacan, até de outros bons profissionais. Dessa forma, desenvolvemos o NEPP, com os cuidados necessários.
Havia um curso extenso, rigoroso e complexo para a formação no trabalho do inconsciente. Havia os cursos rápidos e complementares, biblioteca, publicações, atendimentos, sugestões dos leitores e supervisão. Afinal, tudo o que era bem importante para a formação, estudo e tratamento da ciência até hoje não reconhecida por todos, para a especialização em psicanálise. Lutamos, fomos criticados, mas também aparados por muita gente, de diversos lugares.
Fizemos congressos. Em um deles, esteve presente o querido Hélio Pellegrino. Recebemos com o carinho de sempre o professor emérito de psiquiatria e presidente da Associação Brasileira, José Leme Lopes, que disse:
“É possível que, com uma ampla organização de saúde mental, um dia seja possível impedir a internação compulsória, um dos problemas mais sérios da psiquiatria administrativa. Durante muito tempo esse problema existirá. O princípio do consentimento prévio e esclarecido (relembro o emprego do eletrochoque) deve ser uma das normas da conduta do psiquiatra. A natureza da doença mental não permite que isso seja sempre alcançado. Não me parece viável o consentimento retroativo. Seria mais uma figura legal do que psicológica ou médica. A maior significação do documento é revalidar a tradicional posição da medicina: o médico nunca se pode voltar contra o seu doente. Este alto padrão de ética floresceu de Hipócrates até os totalitarismos modernos. Os médicos infame” (expressão do Tribunal de Nüremberg) que fizeram experiências em seres humanos, nos campos de concentração do nazismo, alinham-se no mesmo paredão de vergonha dos psiquiatras que distribuem neurolépticos e guardam em seus hospitais dissidentes políticos”.
Cito o final de suas palavras e na extensão narrada, para que você, leitor amigo, perceba o seu nível intelectual.
Muitas outras pessoas de dentro e fora do Brasil participaram dos nossos encontros. Estive com Bion e com Lacan, além de outros importantes psicanalistas. Conforme já foi dito antes, o NEPP foi necessário e bem constante no saber psicanalítico da cidade de São Paulo.
A Sociedade Internacional de Psicanálise sempre teve regras muito rígidas para o desempenho do saber freudiano. Regras claras e rígidas, por exemplo, na discutível psicanálise didática, também já descrita desde seu início, em Viena.
ANDANDO
Muito medo.
Não cedo.
Há tanta aurora.
Auroras cedo, madrugadas.
Não cedo, nem ao nada.
Nem ao clamor ou arremedo.
Encantado, enredo,
pois tudo começa cedo.
Caminho ledo.
Mas tanta coisa se passa,
e passa bem mais cedo.
É madrugada outra vez,
e não cedo.
Nunca sedo ingenuamente,
acredito ainda.
Sempre há esperança.
Carlos Roberto Aricó
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