141. Mundo atual 1
20/07/2021
O grande poeta e escritor uruguaio Eduardo Galeano fez considerações importantes sobre a atualidade. Aqui, pretendo citar algumas reflexões sobre fatos relevantes.
Se Cuba for modelo do comunismo, talvez valesse mais ser visitada e nunca invadida. Muita gente poderia ver aquilo que o comunismo produziu. Outra coisa que chama a atenção: por que nos Estados Unidos o que deveria chamar-se Ministério da Guerra chama-se Ministério da Defesa, se o país nunca foi invadido ao longo da história? Até setores da mídia preferem não enxergar o óbvio.
Em práticas políticas pouco éticas, a palavra suborno foi e é considerada contribuição, e a tradição é vista como pragmatismo. Missões de pacificação possuem efeitos colaterais: apenas matam civis, ou poucos militares. Churchill considerou a morte de 48 britânicos. Morreram nas batalhas 27 mil seres humanos: pobres, selvagens, não civilizados. Chaves sempre foi visto como tirano e sanguinário. Bush, como herói, na maioria das vezes. Palestino é sempre terrorista.
Assim, vamos modificando a luz da história que valida a significação de muitas palavras do cotidiano. A linguagem sempre é politizada neste misterioso planeta. A ação midiática não consegue, na maioria das vezes, organizar e manter um poder virtual feito apenas com significado diferente de palavras, apenas palavras. A Arábia Saudita vende petróleo a preços módicos para os Estados Unidos e paga bem a esse fantástico país democrático pelas armas importadas. Há pobres e até crianças famintas nos Estados Unidos.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC), mandam, como sempre, aqueles que têm mais dinheiro. Suas reuniões importantes são realizadas a portas fechadas, sem transparência alguma. Porém, é nesse ambiente que se decide o futuro de centenas de milhares de pequenas agriculturas, sem voz alguma.
Leitor, você pode achar que exagero. Procuro sempre seguir as reflexões históricas. Cito sempre minhas fontes. Na Grécia Antiga, berço do sistema democrático, um em cada dez indivíduos tinha algum poder e não precisava prestar obediência. Hoje, temos as eleições, as urnas e votos. Os poderosos, democraticamente e com mais dinheiro, venceram. Esta é a democracia do planeta. Pobre no verdadeiro poder de escolha. E tudo continua assim, neste mundo angustiado e angustiante.
Durante o período soviético, dois por cento dos habitantes viviam na triste linha de pobreza. Quando acabou o regime, mais da metade constituíam a parcela mais pobre da população. É claro que aquele comunismo precisava modificar-se, mas sua essência era muito benéfica aos proletários, que depois não conseguiram mais se organizar. O capitalismo destruiu sonhos e esperanças, além da renda. O aumento da pobreza na Rússia de dois por cento para 50% é um dado do sistema econômico mundial. A verdade é única ou podemos observar diversas verdades? Parece até algo místico, religioso. Verdade única: a verdade de Deus?
O Fundo Monetário Internacional (FMI) é integrado por 182 países. Apenas cinco mandam. O enorme restante, 177, nada decide. Obedecem, como sempre. O Banco Mundial (BIRD) tem 180 nações. Apenas sete mandam e 173 acatam. Na ONU, os cinco países que mais fabricam armas decidem e têm poder de veto.
Foram necessários 20 anos de lutas para o operário ter algum jeito de buscar e manter seus direitos. Aí, em pouco tempo, surgiu a flexibilização das leis trabalhistas, quase uma nova escravidão. Hoje, um operário da Nike na Indonésia precisa trabalhar cem mil anos para ganhar aquilo que um executivo da empresa recebe de salário na democracia americana.
Poucas pessoas ganham metade do dinheiro produzido no mundo. A Justiça e a liberdade, em geral, funcionam bem para as minorias, aliás, bem pequenas. O poder, como tenho enfatizado bastante, só pertence a poucos.
Algumas empresas multinacionais somente aceitam pessoas que não passem nem perto dos “terríveis” sindicatos, nos quais ao menos a liberdade de escolha é citada.
Nova escravidão e um neocolonialismo existem nos quatro cantos do planeta, independentemente de qualquer partido político ou sistema ideológico. O mundo precisa de transformação iminente. A razão humana deve interceder e promover as mudanças tão necessárias. Para onde marcha a civilização? Felizmente, hoje nem tudo se pode. A natureza e o meio ambiente são os limites para um capitalismo que destrói todos os habitantes, com poluição de várias formas e nefasta concentração de renda. Assim, são regrados certos limites e algumas leis. Estas, contudo, não conseguem proteger tudo, pois estão a serviço dos poderosos, dos políticos e dos banqueiros, como venho narrando em vários outros textos.
ONDE
Volto, até consternado,
para onde sempre estive.
Lugar do medo, coragem,
morte, esperança.
Volto bem mais velho.
O tempo roubou minha juventude.
Os anos roubaram a vida adulta.
Volto bem mais velho,
jogando fora calendário.
Fazendo-me moço, outro cenário.
Volto mais velho e antigo.
Fiquei com tudo.
O meu também. O que acreditei meu.
Tentos desígnios meus.
Incrédulo, à procura de Deus.
Volto com sabedoria própria.
Pouca inveja. Aspiro, céu.
Feliz, esse destino.
Contente o desatino.
Volto para onde sempre estive.
Sorriso, lágrima.
Ternura e ternura.
Nada de violência,
nada de sangue.
Alma pura, impura.
Exangue, gravita.
Entre lagoa e mangue.
Dividindo o ser no meio
entre ter e o não sei.
Navegam meus sonhos,
crianças, homens, mulheres.
Habitam devaneios.
Os lados, no centro os meios.
Anseio, sofro nos seios.
Anseio e sofro revelações.
Inventadas, bem inventadas.
Volto para onde sempre estive.
No mundo, tristeza.
Alegria.
Vida, invento mais
um dia.
No contratempo,
mais um dia.
Carlos Roberto Aricó
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