139. As cruzadas em nome de Cristo 2
06/07/2021
A inquisição e as cruzadas, como já vimos, defendiam o cristianismo até com a violência implacável da morte. Os muçulmanos e as mulheres representavam quase sempre o diabo. Havia outros representantes do inferno: os negros, os pobres, os estrangeiros e, como citamos, os homossexuais. Indígenas americanos (incas, maias e astecas) também exerciam as perversões diabólicas. Até católicos foram perseguidos e mortos pelas antecedentes torturas em nome da fé dos ensinamentos da Igreja Católica.
Difícil escapar dos dogmas e, mais ainda, das mentes divinas. Difícil escapar dos mandamentos e da Lei de Deus. Este reinava de maneira absoluta e até na atualidade é defendido por muitos que utilizam a violência, o castigo e até a própria morte “dos seres insignificantes”.
Tudo ou quase tudo pode ser e costuma ser interpretado pelos que moldaram o universo religioso como um pecado terrível e merecedor de castigo. Rezas, suplício, tortura e humilhações.
As ações humanas hoje são em geral mais sutis e mais leves, mas costumam marcar de modo negativo os pecadores, todos nós nessas contradições e incoerências. O poder dos inquisidores no mundo atual, felizmente, é menor. Assim, podemos exercer os impulsos sem sermos tão pecadores e, portanto, sem sermos punidos ou postos como vítimas de tantas injustiças produzidas no âmago religioso.
Para todos nós, a princípio, algumas vezes paira a percepção de que o poder dos inquisidores e até mesmo dos religiosos nos ajudou bastante na possibilidade de escolhas de como pretendemos viver nossos impulsos agressivos e os eróticos, para criar e se manter uma civilização eficiente.
Freud já foi visto tantas vezes enfrentando uma resistência poderosa para a liberação dos humanos. A psicanálise e a criação do inconsciente conseguiram demonstrar que externamente somos obedientes às normas civilizadas. Contudo, dentro de nós, às vezes com muita culpa, pensamos e desejamos vínculos considerados perversos: certa violência na atividade sexual, certa homossexualidade, grupos humanos e não o casal, valor dos órgãos sexuais e do corpo e tantas outras hipóteses ligadas ao desejo, sempre poderoso em vários contextos. Assim, temos sonhos eróticos, temos parapraxias, temos piadas, gestos e danças. Só assim nos “acostumamos” com nossa impressão formada do encontro com outros seres conhecidos e não conhecidos, para, enfim, originar o mundo civilizado e protetor.
É óbvio, como você também sabe, que temos de domar ou domesticar vários impulsos em nome da ordem e da lei. Freud e o saber psicanalítico podem explicar muitos acontecimento do nosso cotidiano, que parecem não ter razão alguma. Coisas insensatas, sonhos contraditórios e os nossos frequentes absurdos. Muita coisa origina-se a partir do inconsciente, descoberto e explicado até em pormenores, pela beleza cientifica e a lógica da metapsicologia: uma nova abordagem da psicologia tradicional.
UM POEMA
Palavra pensada.
Leve pluma, ou folha.
Associação: poemas
fonemas sem direção.
Fonemas voando.
Silêncio, vale a pena? Vale apenas?
Quietude em cena.
Convento, fechado ao vento.
Atento, tento, tento, não consigo.
Persigo o acaso, chão raso.
Ocaso livre e desilusão.
Vocábulo, movimento.
Entre chão, firmamento.
Clarão de lua, nua, minha, nossa,
sua, sofrimento.
Sentimento leve.
Atento, há tempo, tento.
Mais um poema no muro do convento.
Não vejo freira,
mas ainda tento, como tento.
Carlos Roberto Aricó
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