138. As cruzadas em nome de Cristo 1
29/06/2021
A inquisição, as cruzadas, a vontade de impor a fé cristã com força e violência e o enorme desrespeito a outras crenças foram observados ao longo da história. A truculência, a tortura e a morte atingiram cientistas (astrônomos e matemáticos), religiosos (inclusive católicos) e mulheres (principalmente as consideradas bruxas ou as que se permitiam o livre exercício do erotismo).
Descrevo aqui algumas vítimas desse processo tenebroso. Porém, os números são também assustadores. Resquícios dessa inquisição perdurarão durante séculos, evidentemente tendo outros nomes. As vítimas são as de sempre, ou seja, as que ousaram pensar de modo diferente do aceitável, do obediente e do conservador.
Por exemplo, o Governo dos Estados Unidos pratica a tortura para defender o país. Usa outros nomes até delicados perto da terrível intenção de ferir e produzir medo. Matar também faz parte. Coerção, técnica intensiva de interrogatório, muita pressão e métodos de convencimento.
O torturador deseja algumas respostas e ele consegue sempre. Falei da maior democracia do mundo ocidental. Entretanto, é claro, isso existe, infelizmente, em muitos lugares, inclusive em diversos contextos da fé religiosa contra o erotismo, os desvios de conduta e os excessos. Tudo aquilo que seja contrário à ordem estabelecida e à defesa dos indivíduos obedientes e sensatos é taxado como inadequado. Pense e aja como EU e não será punido jamais. Triste, muito triste.
O Papa Inocêncio VIII encomendou para dois inquisidores alemães, Kramer e Sprenger, as regras necessárias para maltratar pessoas e até matá-las. O livro Malleus Maleficarum recomendava exorcismo contra o demônio, principalmente entre as mulheres, plenas de luxúria e desejos, donas de uma insaciável excitação do corpo. É claro que pessoas masculinas e homossexuais também foram vítimas desse modelo aparentemente sério, religioso e sempre perverso. O suplício, o medo e o pânico eram artifícios de ordem cristã. Sabemos o quanto o próprio Cristo era contrário ao establishment e como fez sua carreira religiosa por meio das contraordens, em busca da liberdade do ser humano, de expressão e de ação. Limites mais amplos e mais frágeis.
Editaram-se decretos de expulsão, e alguns países europeus ficaram com menos indivíduos capazes para o cotidiano, pois os outros foram enviados às colônias, que não tinham estrutura para os receber. Por exemplo, a rainha Isabel, católica e devota, nomeou Torquemada como Inquisidor Supremo, por fazer tudo que fosse útil nas coisas da Santa Inquisição: muitas torturas em defesa do que se dizia pureza da fé e da raça. No caso, o espanhol, que valia bem mais do que qualquer outro indivíduo.
A história é rica nas ações plenas da fé dos inquisidores. Na Lombardia, por ordem do Bispo de Verceil, o católico e impecável Docino teve de observar Margarida ser cortada em pedaços na sua frente e depois ele próprio. Viva a fé cristã! Sangue, muito sangue nas montanhas de Novarais.
Esse é o breve resumo do enorme sofrimento que ocorreu no poder despótico em nome da Igreja.
PUNIÇÃO
Acorrentado nos sonhos,
preso nas fantasias,
cânticos enfadonhos,
insólitas alegrias.
Medo e esperança.
Partes de criança,
tudo, tanto na dança,
do poeta atormentado.
A sós amado ou desamado.
Caminhar perdido no tempo.
A sós ações mortas.
Vozes tortas.
Acorrentado e sem culpa?
Punição enigmática:
Folhas e folhas em branco.
Profano cada santo.
Atrás de grades,
imenso mundo interno,
solto na alma,
histórias de inferno.
Carlos Roberto Aricó
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