137. Chistes ou piadas

22/06/2021

Ao lermos Freud, é até estranho vislumbrar-se a ideia de que ele procurou e entendeu a natureza íntima dos chistes, das piadas, que não foram tão estudadas nos sonhos, que geralmente contêm piadas muito perspicazes.

O sério inventor da metapsicologia nunca pôde falar de coisas engraçadas, pois seria criticado de modo enfático, principalmente pelos “sábios", que criticavam, como até hoje, o saber estranho do sistema inconsciente.

Freud sempre pôde observar as associações fortes entre os sonhos e as piadas, pois sua compreensão deve-se à parte de nossa personalidade descrita e originalmente realizada por ele: o inventor do saber psicanalítico.

Parece bastante óbvio que o chiste tem relação direta com o cômico. Ele possui um aspecto bem razoável, pois, ao contrário, não seria aceito e menos ainda divulgado. Tem lógica e, assim, muitos de nós o aceitamos com o vigor necessário e a qualidade esperada.

Sabemos e temos certeza de sua veracidade face ao real e ao mundo externo. Não há dúvidas, não há interrogações sobre essa verdade explícita, lógica e, portanto, razoável. Isso costuma ser inicialmente contado no começo de qualquer piada.

Ser bom contador de piadas significa ser espirituoso no contexto do faz de conta. Usa-se o intelecto a favor de outra história oculta, subjacente.

É comum juntar as palavras ou substituí-las. Condensação e deslocamento, formas de outra linguagem a ser integrada pelo psicanalista, modificam o contexto das palavras e associações delas. Muita coisa fica diferente nesse novo universo no qual um texto é ou pode ser substituído por outro. Histórias e sobre histórias iluminam ou encobrem os textos, agora diferentes, mas oportunos. Sonhos e/ou piadas caminham no despertar do inconsciente ou até podem originar-se dele.

Outras realidades a partir de outras realidades desconhecidas que possam trazer nova significação. O aqui e agora são outros. A agressão é possível dentro do contexto civilizatório. Pode-se atacar o planeta em nome de um novo porvir. A poesia, os romances, os texto literários demonstram outras hipóteses.

Se alguém admira algo, e isso for importante no mundo civilizado, então “devemos" pensar outra história. Essa outra é tão estranha, ou pode ser tão diferente, mas denuncia o poder organizado e a ordem estabelecida. Isso não pode. Não pode mais… E assim acontece.

Nossos impulsos querem realizar-se. Eles necessitam outra ordem no cotidiano. Isso não pode esbarrar em nossa essência. Tudo pode. Tudo pode mesmo. Culpas e religião caminham e torturam cada um de nós.

O templo do bem e do mal caminham juntos. Eros e Thanatos caminham juntos. Erotismos e morte caminham juntos. Só em novelas, em livros, em poesia, pode haver alguma revelação. Viver a piada, viver o chiste, talvez possa tornar a humanidade um pouco melhor, como viver os aspectos artísticos também.

Como o leitor pode observar, o chiste tem relação com o inconsciente. Os trocadilhos, as histórias e os conflitos são sempre originados do conflito entre a realidade e o inconsciente descoberto por Freud. A piedade e os elementos psíquicos entre o que pode e não pode acontecer no mundo civilizado possuem original determinação na possibilidade de estabelecer chistes.

Neles existe sempre um conflito entre o aceito e o não aceito no planeta de hoje. O inconsciente e suas possibilidades e conflitos entre o bem e o mal produzem os sintomas, os sonhos e até as piadas que alimentam nossa vida. De cada conflito pode existir uma nova solução, às vezes até engraçada.

Devemos sempre encontrar e entender qualquer manifestação linguística do homem. Isso nos torna mais livres e faz revelações importantes sobre o saber do psiquismo e do inconsciente.