124. Moisés e o monoteísmo 1
23/04/2021
Em 1939, após quatro anos de reflexões e problemas políticos externos com a terrível expansão do nazismo, Freud escreveu “Moisés e o monoteísmo”, em três ensaios. À época, havia graves condições até para se viver e ocorreu inclusive uma ocupação alemã em Viena.
Moisés, cujo nome origina-se de Mose, foi o libertador do povo judaico. Mose significa criança em egípcio. Não há dúvida de ser um herói, um líder, apesar de não haver provas do seu nascimento no próprio Egito.
Moisés assumiu sua etnia judaica, depois de ser criado na corte egípcia, e se transformou em herói. Em tempo algum aceitou as bruxarias, os mitos e as magias. Negava Osíris, representante da morte e do próprio Sol dos egípcios. O monoteísmo judaico sempre foi mais poderoso.
É interessante observar que Moisés conservava partes religiosas judaicas, mas implantou, por exemplo, a circuncisão, própria da religiosidade egípcia. Nota-se que ele tinha contradições no aspecto religioso.
Moisés, desde cedo, falava vagarosamente, parecia procurar palavras. Talvez não fosse egípcio e no Monte Sinai criou uma tradição semita, diferenciada pela forte influência entre os egípcios. Entretanto, existem nesse herói e em quase todas as religiões, o mistério e as contradições.
Parece ser religiosamente comprovado, até pela Bíblia, que Moisés foi chamado por Deus e foi seu mediador entre os povos desses lugares. O sol nunca pôde ter valor no mundo judaico.
Moisés sofreu uma rebelião e, desse modo, foi morto. Não se sabe quase nada a respeito do seu caráter, assim como do povo Levita, importante na história da Bíblia.
Conforme assinala Freud, as religiões de Jeová foram muito modificadas na forma para se misturarem com os aspectos originais da religião de Moisés. Ele governava o povo e certamente impôs sua religião. Então, obrigou os semitas a se livrarem dele.
Freud dividiu, inclusive por meio da Bíblia, a religião judaica a partir de dois povos, dois reinos, dois nomes de Deus. Até a morte de Moisés foi negada. Procurava-se esquecer de modo conflitante. Dois grupos de pessoas moveram-se para criar uma nação.
A Igreja Católica sempre ficou na defensiva e houve desconfiança nas conclusões de Freud. Este sempre demonstrou psicanaliticamente o enorme poder religioso como mau compulsão neurótica. Com outras palavras, assinalava que a religião sempre foi algo como uma neurose obsessiva do homem para auxiliá-lo a domesticar suas pulsões e desejos e, dessa forma, criar e ser protegido pela civilização.
O assassinato de Moisés e o pai sempre envolvido nunca foi aceito por religião e religiosos. A ideia de um único Deus e a ênfase nas exigências éticas fundamentaram à glorificação judaica e o ódio do que era diferente negavam o que fosse estrangeiro.
O texto da semana que vem é a sequência desse conteúdo.
DORMINDO
Chega a noite.
A escuridão vai chegar.
O poeta e a poesia dormem.
Versos, metáforas, palavras!
Melhor a vida sem palavras.
Sem linguagem.
Sono, sonho, anjos colorindo tudo.
Imagens, arcoirisando tudo.
Luz decomposta, sonhos, metáforas de vida.
A noite corrige equívocos do dia.
Leito e madeira esquecem da floresta.
Árvores em festa.
Parece tudo seresta.
Ser esta.
Daqui à pouco um caminho.
Parte boa e ruim,
a vida é mesmo assim.
Entre a beleza da rosa,
do Rosa e do jasmim.
Carlos Roberto Aricó
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