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12. A importância das palavras no saber metapsicológico

20/08/2018

Se o leitor observar, é no mínimo engraçado que um homem tão sério como Freud tenha escrito sobre piadas e sonhos, praticamente dando tanta importância às palavras. Valorizou desde cedo a enorme relevância das associações de palavras por semelhança fonética e conceitual. Significante e significado foram os artífices básicos da obra de Lacan em sua famosa releitura de Freud. Como se percebe, o interesse pela palavra é muito relevante na psicanálise, conforme veremos.

As palavras nunca são absolutamente neutras e nada significam se não forem utilizadas. Quando alguém escuta ou vê, linguagem falada ou escrita em um texto, ou é mobilizado pelas palavras de outro alguém, em tantos dizeres civilizatórios, isso em si já pode provocar alguma significação. Perde a neutralidade. Considerando de outra forma: as palavras nada têm a ver com as coisas próprias do mundo objetivo. Cada construção linguística produz significação no encontro de uma pessoa com outra e consigo mesma. A significação ocorre sempre simultaneamente aos sujeitos envolvidos em cada contexto.

Assim, nesses aspectos considerados, deve-se pensar na semelhança entre a etimologia das palavras, vocábulos e verbetes que habitam nosso léxico, com certa história de cada palavra, ou seja, sua filologia escrita e falada. Às vezes, essa história e a lexicografia podem aproximar cada vocábulo ou palavras de algum conceito mais relacionado às coisas da realidade objetiva. Face a cada indivíduo, a memória produzirá ou já produziu as significações associadas aos momentos representados. Já foi mencionada anteriormente a representação ideativa e a afetiva na constituição de nosso psiquismo.

Falamos e pensamos, como se observa, por meio das palavras articuladas à nossa memória. Sempre mobilizadas pelo desejo humano e nunca mais neutras. Representações carregadas de afetos, agressividade e erotismo estruturam nossas cadeias associativas. Desse modo, podemos criar entendimento das coisas, de nós mesmos e dos outros, e, claro, sempre por meio de algo desejante, que obedece ao mundo interno de cada ser humano. Nossas marcas mnêmicas sempre irão associar-se no modo de falar, escrever e até pensar, tudo muito distante, conforme estamos enfatizando, de uma desejável, porém utópica, neutralidade: própria para uma comunicação correta.

As palavras articuladas à nossa memória estruturam-se a nível sináptico e, portanto, no âmbito de quase infinitas associações. Tanto a memória como o esquecimento são criações linguísticas que alteram às vezes até profundamente os verdadeiros fatos ocorridos. A realidade factual não interessa à psicanálise, que procura sempre as razões inconscientes para qualquer tipo de fenômeno psíquico. Para a metapsicologia, tudo aquilo que é dito em uma sessão constitui nossa verdade histórica ou não, factual ou não. A tarefa diz respeito às associações articuladas com a memória ou esquecimento.

É até espantoso imaginar que inclusive lembranças muito convincentes podem ter nunca acontecido na história real do sujeito analisado e podem ser, também, influência real ou não de outra pessoa que pertence à vida desse sujeito; volto a dizer, de história produzida pela motivação inconsciente e, portanto, linguística: construção criativa e inventada pelo ser humano para se defender ou explicitar conteúdos difíceis para ele. Plágios, lembranças e esquecimentos devem ser estudados de modo amplo e contextual.


Na próxima segunda-feira, nosso enfoque abordará o corpo da letra.

COTIDIANO

Dentro de mim,
complexo labirinto.
Sem Ariadne,
minotauros múltiplos.
Início ou fim utópicos.
Tão desejados.
Tão inexistentes.

Perdido caminho.
Perdido descaminho.
Parede intransponível,
entre mim e o outro.
O outro interno:
caricatura.

Minotauros múltiplos
dançam.
Muito alegres
só dançam.
Hoje escapei!
Morro de espanto,
na chatice de sempre.


Essa poesia, de minha autoria, é inédita.

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