111. A monogamia criticada
10/11/2020
Já foram escritas anteriormente narrativas sobre sexualidade e agressividade. Voltamos ao tema hoje e possivelmente o faremos outras vezes. A intenção é deixar claras minha reflexão e dúvidas que, inclusive, persistirão durante décadas na procura de algumas “verdades” próprias do ser humano, sempre confuso ou paradoxal. Como se sabe, foi Freud o grande primeiro pensador desses aspectos tão peculiares em nossa estranha civilização.
A pulsão de morte que venha originar violência ao escapar das fantasias, deve ser combatida. Violência em pensamentos e desejos, em nosso mundo interno, tudo bem. Violência atuando no mundo objetivo, na realidade, não. Na orientação sendo sadomasoquista bem civilizada, na qual os corpos permaneçam íntegros, tudo bem.
O indivíduo possui sempre uma parte orgânica, celular, material e genética que deve ser refletida em sua integralidade. Existe também algo construído com palavras, com representantes das coisas objetivas, com a forte interferência dos nomes, da significação e do conhecimento. Assim, a pulsão de morte orgânica nunca pode ser atuada no processo civilizatório.
A pulsão erótica, é claro, possui partes agressivas e de equilíbrio instável, porém predominantemente originará dentro da civilização várias formas de realizar-se, vários modelos de orientação que sempre devem ser respeitados.
Existem razões orgânicas e linguísticas para as escolhas que cada um irá fazer e, inclusive, tudo sujeito às mudanças para o bem e para o mal, em cada destino humano. Aspectos sociais, econômicos e políticos influenciam. Modelos morais e religiosos também.
É muito oportuno lembrarmos que até a violência ou simplesmente qualquer ofensa podem alterar o lado bom e o lado mal da vida, de cada pessoa, associados com a pulsão erótica e todos os aspectos que influenciam os relacionamentos humanos, ou até de um indivíduo consigo mesmo.
O mais comum na história civilizada diz respeito à monogamia, à homossexualidade, à poligamia e ao casamento. Na narrativa de hoje, transmito aos leitores amigos minhas reflexões sobre a monogamia, que, antes de tudo, como viés de “verdade”, é de extrema minoria entre nós.
No dizer de tantos estudiosos, a monogamia real, verdadeira, portanto, é quase um mito vinculado com as dificuldades de quebrar os pares ou acionar novas relações para novas formas do amor. É uma falsa história, sempre relacionada à transmissão hereditária de bens e de propriedade privada de coisas de natureza que não pertencem ao homem, inclusive o civilizado.
Também no dizer de especialistas, o sexo não pode ser observado como uma coisa nefasta e suja. Isso, obviamente, decorre de mentes até sexofóbicas, plenas de medo e bastante acomodadas. É muito provável que a pornografia encontre aí um terreno bem fértil para o desenvolvimento, ruim e ruidoso, bem contraditório.
Dentre os primatas superiores, a monogamia é pouco encontrada, como em cada indivíduo. Muitos pessoas, por intermédio de preconceitos sociais e religiosos, permanecem formando casais e até mesmo infelizes permanecem. É complicado para cada um abandonar a zona de conforto habitual e certamente inadequada e falsa na grande maioria das vezes.
As fronteiras eróticas povoam a mente humana. Os pensamentos não podem ser necessariamente expressos. Hoje, parece que tudo vem mudando, ao menos um pouco. O casual, o marido e a esposa, os filhos e a família são fortemente apelos populistas e só às vezes correspondem à verdade.
Na civilização, são comuns os atos repressivos. Existem graves fatores negativos na pedagogia e muitos traumas. Modelos multifatoriais não costumam ser bem aceitos, mas, como já enfatizamos, são frequentes nas fantasias que povoam o psiquismo e, é claro, que produzem maiores dificuldades, tanto no erotismo como na agressividade. Às vezes, produzem até traumas.
Para finalizar, é óbvio que as informações produzidas pela tecnologia aumentam nosso conhecimento a respeito de muitas coisas. Entretanto, não se pode olvidar que existe hoje uma espécie de solidão eletrônica, que pode gerar conforto, porém, infelicidade.
A pulsão de morte cria a força e a tecnologia aumenta. Pedras, bombas e mísseis são utilizados nas guerras contra a gentileza, que parece estar ausente. É claro que podemos utilizar até mesmo a química atômica para combater os temores e assim fazer o bem. Tanto e tudo é possível em nossa complexa civilização. A agressividade pode associar-se às relações humanas e, claro, o erotismo também, assim como a gentileza e o respeito. É importante melhorar nossa agressividade, nosso desejo e nossas famílias, monogâmicas ou não. Podemos modificar para o bem qualquer coisa e, nessa direção, mitigar a força, a opressão e a capacidade de escolha do pior.
BELEZA
Uma menina e só encanto.
Um menino agora espanto.
Compõe estranho canto
Aparente alegria mansa.
Almas de criança,
doces crenças de criança.
Flores de luz.
Olhos d’água. Fosforescentes.
Nada de mágoa.
Nada descolorido.
Nada longe do sol.
Carlos Roberto Aricó
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