110. Despersonalização e desrealização
03/11/2020
Ambos os transtornos geralmente estão associados e causam enormes dificuldades na adaptação desses indivíduos ao cotidiano. Sofrem, provocam muito medo e, é claro, fazem sofrer os próximos.
Felizmente, esses transtornos são raros e, como em muitas enfermidades já narradas, apresentam uma casualidade múltipla. Esta pode não estar influenciando nenhuma alteração grave de pensamento, mas, na grande maioria, existe uma etiologia que associava a epilepsia temporal, neurose obsessivo-compulsiva, fobias e até, evidentemente, o que é mais grave, a esquizofrenia. Esta, de modo progressivo, vai determinando o indivíduo para ser e estar na cultura, vivendo com certa adaptação, bastante prejudicada em algumas pessoas.
Em ambos os fenômenos já citados, os indivíduos sentem-se irreais, remotos e automatizados. Alguns sentem que já estão mortos, tamanha a depressão associada à identidade abatida pelo automatismo observado.
Os indivíduos sentem que não produzem mais seus pensamentos, suas lembranças e seus comportamentos. Algo grave acontece no julgamento de realidade, que agora é estranha e não mais reconhecida. Também acontece de a própria pessoa estar muito diferente do que já foi, tendo quase certeza de ser outro indivíduo. Se tudo isso estiver acontecendo, temos de pensar em algum processo psicótico, talvez esquizofrênico.
Como se sabe, o uso de algum alucinógeno pode ocasionar tudo isso durante o episódio de intoxicação, que costuma passar sem psicofármacos. Os pacientes queixam-se de perda das emoções e, sobretudo, que vivem de modo artificial.
A fadiga, o dormir e o despertar podem, de certo modo, criar sintomas de desrealização e despersonalização, às vezes até associados com a morte de alguém próximo.
Na esquizofrenia, pode existir a sensação de mudança de personalidade, bem como outros sintomas dissociativos. Nessas causas, como enfocamos anteriormente, surgem as alterações de consciência, que costumam alterar a adaptabilidade.
Quando ocorrem esses sintomas, o indivíduo aceita que há uma alteração consciente, própria dele, que se vê de modo artificial. Nada mais é colorido, existe depressão e, sobretudo, ele sabe que nenhum desses sintomas surge por alguma causa externa. Nada disso é imposto de fora da realidade externa. Ou seja, de longe das atitudes esquizofrênicas, próprias de cada indivíduo vitimado.
É bastante claro que algo estranho estará sugando sua personalidade, e o mundo externo, agora alterado, continua existindo como sempre. No episódio esquizofrênico, a pessoa sente que roubam a personalidade por alguma razão, às vezes até cômica.
Alguns indivíduos com alteração de realidade e de personalidade apresentam os sintomas já descritos. Porém, após uma crise epilética típica relacionada com o lobo temporal.
Os tratamentos são próprios para cada transtornos e, muitas vezes, sintomáticos. Antipsicóticos, antidepressivos, antiepilépticos e, se possível, como sempre, alguma forma de psicoterapia podem ser úteis.
Na próxima semana o texto será sobre monogamia.
PROCURO
Transito
em lugar esquisito.
Persisto
ao saber do mito.
Insisto no esplendor
do circo.
Simplesmente com dor
peço pinico.
Aflito, bastante aflito,
procuro novo rito.
Carlos Roberto Aricó
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