109. A gagueira
27/10/2020
Ao longo de minhas narrativas, tenho expressado firmes convicções de que existem temas, como o de hoje, os tiques e o autismo, que seriam melhor enfocados pelos psiquiatras infantis com formação psicanalítica. Eu, particularmente, não costumo lidar bem com os sintomas na infância. As crianças são preciosas demais e não consigo vê-las pelas minhas características anímicas. São pessoas maravilhosas que, com o tempo, ao se tornarem adultas, irão perder-se nessa civilização na qual deseducar é ordem imperiosa do mal-estar generalizado nas sociedades. As salas de aula, os professores e as famílias acabam deseducando, conforme muitas vezes constatamos.
Bem, hoje farei alguns comentários a respeito dos gagos, que sofrem muito e tendem a ter suas dificuldades. As idades no desenvolvimento normal para a linguagem são bastante variáveis desde os primeiros sons, na construção da junção de palavras para fazer as frases, na expressão e compreensão delas.
Só um foniatra pode saber de várias coisas inerentes ao se falar e que, como tenho alentado, dizem respeito sobretudo ao que nos humaniza. O som e a articulação diferente e criativa das palavras só podem ocorrer na voz e na escrita dos poetas. Algumas dificuldades na linguagem são observadas pelos pais e, mais profundamente, no âmbito escolar. Os pequenos alunos são alfabetizados para nosso cotidiano.
Na gagueira mais comum, observamos a repetição e certo prolongamento de alguns sons, certo silêncio e certa excitação. A ansiedade é evidente e quando diminui, reduzem-se também as dificuldades linguísticas. É o caso quando não há nenhum transtorno neurológico envolvido. Existem alguns movimentos característicos, como balançar a cabeça e chupar o dedo. Todos nós já observamos esse transtorno, no qual o emocional é ainda mais prejudicial.
A fluência da fala não pode existir, mas há outros contextos nos quais parece não ocorrer transmissão alguma. Já na infância, começam a existir alguns problemas e a criança sofre a influência dos adultos, sempre muito críticos ao revelarem uma postura de pouco amor.
É claro que existem benefícios secundários e, dessa forma, os pacientes reagem com ambivalência positiva e negativa ao expressar sua linguagem tão frequente e diferente dos demais. Isso mexe muito com a crítica dos adultos próximos.
A fala é, como se observa, desordenada e, às vezes, até motivo de certa comicidade dos outros indivíduos. Imagine, leitor, o pretexto para serem agredidos durante a infância. Muitos desses indivíduos apresentam uma estrutura neurótica obsessivo-compulsiva. Outros parecem inclusive ter algum retardo mental. Daí a necessidade de um neurologista ou foniatra, pois pode não se tratar de gagueira conhecida e até comum.
Ocorre, às vezes, a aceleração de tudo: taquifonia e a fala fica praticamente incompreensível. Em geral, nesse caso, existem alguns componentes neurológicos. Junto com a gagueira podem existir tique e isso também pressupõe doenças obsessivo-compulsivas.
Na próxima semana o texto será sobre despersonalização e desrealização.
TIC-TAC
Preso entre presente e passado,
prenuncio a morte do tempo.
O crepúsculo e a aurora,
ao ver a morte do tempo
de mão dadas, caminham
na extensão verde, musgo das pedras.
A eternidade brinca.
O relógio trinca.
E já sem mecanismo,
segundos caem no abismo.
(poema de minha autoria)
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