107. Neurastenia e psicastenia
13/10/2020
Freud, praticamente descobrindo o saber metapsicológico, dividiu as psiconeuroses, ou seja, aquelas nas quais os componentes psíquicos são muito importantes em neuroses histéricas conversivas e dissociativas, fóbicas e obsessivo-compulsivas. Já foi narrado anteriormente os seus principais enunciados. Ele também escreve muito sobre as organo-neuroses, nas quais existem componentes orgânicos e psíquicos, ou seja, parte somática e linguistica acerca das doenças onde o equilíbrio entre as forças complementares originam as chamadas enfermidades psicossomáticas. Nelas existem sempre alterações orgânicas crônicas, com lesões específicas, que não obedecem só a critérios de conversão como ocorre na histerias. Freud faz narrativas bem minuciosas sobre razões inconscientes que alteram órgãos de modo nítido e sempre prolongados.
O grande sábio faz alguns enunciados sobre os textos de Janet e Beard, abordando as neuroses propriamente ditas, nas quais existe sempre excesso ou diminuição de atividade sexual. Ele observou com mais clareza os transtornos relacionados à masturbação e abstinência, ainda sem escrever o papel da pulsão de morte a partir do princípio do prazer. Nesse belo texto, existe um estudo muito esclarecedor a respeito da morte, na divisão ou dissociação pulsional.
Agora, minha narrativa está dirigida aos fenômenos neurastênicos e aos psicastênicos, ambos enunciados por Janet e Beard, conforme já evidenciamos um pouco antes. Nesses transtornos, estamos escrevendo sobre neurastenia e psicastenia, termos não utilizados em todos países, pois estes pretendem referir-se à depressão e à ansiedade, que, como logo vamos citar, implicam algumas diretrizes diagnósticas. O indivíduo nesse quadro de enfermidade vive astênico, com dificuldades de concentração, irritabilidade, nível alto de estresse, excitação pronunciada e, às vezes, exaustão e dores musculares:
"O diagnóstico definitivo requer os seguintes critérios:
queixas persistentes e angustiantes de fadiga aumentada após esforço mental ou queixas persistentes e angustiantes de fraqueza e exaustão corporal após espaço mínimo;
pelo menos dois dos seguintes:
- sentimentos de dores musculares
- tonturas
- cefaléias tensionais
- perturbação do sono
- incapacidade de relaxar
- irritabilidade
- dispepsia;
quaisquer sintomas autonômicos ou depressivos presentes não são suficientemente persistentes e graves para preencher os critérios para quaisquer transtornos mais específicos nessa classificação” (p. 167 e 168, CID-10, 1993).
É interessante observamos que existem indivíduos que se sentem extenuados e debilitados, inclusive por perderem muito líquido seminal. Condenam o próprio corpo pelas excessivas atitudes masturbatórias que causaram, no passado, perda de sêmen. Às vezes, sentem-se estranhos e lentos e assim justificam muitos atos que deveriam fazer e dizer, mas não conseguem devido aos sentimentos de fragilidade corporal.
Muitos pacientes apresentam certa insônia e devem ser testados com indutores de sono, obviamente. Também necessitam de antidepressivos e até ansiolíticos. É claro, nem todos. Os psiquiatras é que devem decidir, como sempre, a respeito dos psicofármacos. Sei que repito de modo até exagerado, mas é imprescindível que neurastênicos e psicastênicos façam psicoterapia, como a grande maioria dos indivíduos.
Na próxima semana o texto será sobre tiques.
ENGOLIR
Entre dentes, mastigo forte
a esperança e o vazio.
Engulho só tédio.
Nenhuma palavra boa ou má.
Nenhuma palavra de dor ou alegria.
Alma claudicante,
engulo enorme silêncio.
Não digiro nada.
Sem palavras, pensamento calado.
Na alma, o enorme silêncio.
O alto e o bom som
são hoje trôpegos
para qualquer comunicação.
Parece uma humanidade vazia.
Nenhum habitante.
Solidão e medo.
Carlos Roberto Aricó
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