100. transtornos somatoformes
25/08/2020
Aqui se trata de alterações aparentemente somáticas, porém sempre sem organicidade. Na maioridade das vezes, encontramos situações traumáticas associadas, mas não existe base orgânica pelos sintomas observados.
Nesses sintomas, os próprios médicos frustram-se, pois não conseguem acreditar clinicamente em alguma lesão tecidual em que o paciente acredita tanto. É incrível como o corpo está bem conservado e as queixas são tão evidentes.
De modo particular e sempre individual, a sintomatologia pode ser desde algum transtorno histriônico até verdadeiros delírios hipocondríacos. Os pacientes reagem aos próprios sintomas com muita ansiedade e depressão. Assemelham-se aos indivíduos que sofrem de fibromialgia.
Não fingem, não imitam, mas sofrem. As queixas são inúmeras: dores, sensações anormais, erupção ou manchas, sexualidade alterada, náusea e vômitos.
Temos de lembrar que a forma é somática e bastante variável, mas o conteúdo é sempre emocional e psicológico. Exames complementares nunca atestam alterações verdadeiramente orgânicas. Para o diagnóstico, devem ser observados os itens a, b e c da Classificação Internacional de Doenças – CID 10, na página 160:
“(a) pelo menos dois anos de sintomas físicos múltiplos e variáveis para os quais nenhuma explicação adequada foi encontrada;
(b) recusa persistente de aceitar a informação ou o reasseguramento de diversos médicos de que não há explicação física para os sintomas;
(c) certo grau de comprometimento do funcionamento social e familiar atribuível à natureza dos sintomas e ao comportamento resultante”.
Devemos afastar os sintomas vinculados com a fibromialgia dos poliqueixosos, conforme já esclarecemos. Tanto no suceder histérico e conversivo, como no verdadeiro transtorno hipocondríaco, Freud e sua metapsicologia podem explicar esse estranho e importante saber psicanalítico. Os conteúdos inconscientes originaram verdadeiramente os indivíduos sofredores. O psicanalista deve descobrir em cada somatização as cadeias associativas peculiares. Dessa maneira, deve tornar consciente a estranha complexidade do inconsciente.
Assim como as fibromialgias, devemos afastar as doenças psicossomáticas. Nelas, observamos sempre uma causação, tanto psicológica como somática. Por exemplo: algumas dermatites, crises de asma brônquica e certos tipos de alterações digestivas. E, é claro, nesse contexto existe um equilíbrio entre o orgânico e o psicológico. Volto a dizer: não se finge e se sofre muito.
Não podem ser esquecidas as possibilidades de dores crônicas e persistentes das mais variadas possíveis, conforme já enunciei antes, e as disfunções autonômicas de origem somatoformes, portanto, emocionais, sem a organicidade esperada.
Tudo aqui foi denominado por Freud como neurose ou, melhor ainda, como psiconeurose. Nessas alterações, o conflito é sempre representado por problemas relacionados à história dos pacientes e determinado por aspectos eróticos e agressivos, bastante descritos anteriormente, em outros textos.
Algumas cadeias associativas remetem-nos simbolicamente a alguns órgãos comprometidos. Entretanto, não há lesões evidentes e sim distúrbios até graves. Não costuma haver nenhuma lesão tecidual própria.
UM TOQUE
Não toco nos sonhos.
Tampouco nas estrelas.
Mal toco na minha própria costa.
Permaneço torto,
absorto, tento como
tantos inventar.
Quem sabe agonia.
Inventar a dor, a melancolia.
Fazendo barulho sereno.
Barulho sem eco,
estranho repeteco.
Tento inventar
algo estranho,
dentro de mim.
Assim, quem sabe, até caminho.
(poema de minha autoria)
.png)


