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10. O fenômeno psicótico e o onírico

06/08/2018
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Ao leitor de minhas narrativas, gratidão. Pretendo escrever outras que você leitor possa e queira compartilhar também. Todo recurso renovável da natureza esgotou no dia 02 de Agosto. Agora só no próximo ano.

Acho interessante imaginar que se possa compreender a grande maioria das coisas por meio de conexões lógicas, aspectos causais articulados à razão e à cognição.

Existem coisas que não são compreensíveis e obedecem a uma espécie de desrazão. Os sonhos, os sintomas, nossa psicopatologia da vida cotidiana (lapsos, parapraxias), só podem ser entendidos com maior profundidade depois de se levar em conta a invenção freudiana do inconsciente.

É claro que na explicação mais íntima dos processos psicóticos, como os esquizofrênicos, por exemplo, não podemos deixar o inconsciente de lado. Isso não significa que hoje possamos curar os esquizofrênicos, que muitas vezes recalcam uma parte da realidade em suas alucinações e sistemas delirantes. Porém, como se sabe, várias significações projetadas no mundo externo pelos psicóticos podem ser associadas com egos fragmentares e bastante alterados.

O espanto e também o horror acometidos por Jaspers não são os protagonistas da estranha lógica do suceder psicótico. Enfatizo que somente a psicanálise e, portanto, a metapsicologia freudiana têm a capacidade de compreender um pouco melhor aquilo que, para Jaspers, não apresenta explicação alguma. As perplexidades devem ser observadas, pois existem em um nível prerreflexivo. O existir humano pressupõe a existência de muitos conceitos paralelos fundamentados pela metapsicologia. Interpretar os sonhos ou os delírios nunca é uma tarefa fácil, sobretudo sem se levar em conta os caminhos e descaminhos do inconsciente.

A desrazão no psiquismo, em vários contextos, pode determinar novas reflexões nesse paradoxal mergulho dentro do mundo interno habitado por complexidades enormes, com forças aparentemente frágeis, com enorme energia, em lugares fantásticos, em conflitos insólitos e antagonismos virtuais. Para muitos psiquiatras, em várias alterações psíquicas existe uma falta de agrupamento lógico e, portanto, passível de dedução racional por meio da compreensão.

As cadeias associativas obedecem em Jaspers um determinismo da razão, no qual o inconsciente praticamente deixa de existir. É importante ter em vista que ele é considerado expoente da psicologia geral e especial. Mesmo assim, como ele, nenhum de nós pode falar em nome da verdade.

Jaspers, em sua obra “Psicopatologia geral”, escreve-nos: “No sonho e nas psicoses aparecem conteúdos que só podem ocorrer através de mecanismos dessa ordem”. E, pouco antes, fala de agrupamento sem possibilidade de dedução lógica de espécie alguma. A multiplicidade dos fenômenos mentais não pode ser compreendida por nenhuma teoria. É claro que Jaspers não menciona no caso a teoria psicanalítica, que, por intermédio do conceito de inconsciente, explica, creio que com sucesso, muitos conteúdos psíquicos antes não explicados, como estamos observando.

Nesse amplo texto transcrito de sua “Patologia Geral”, Jaspers pensa no enigmático suceder psicótico que, obviamente, mesmo a psicanálise e, portanto, a metapsicologia não compreendem em sua totalidade. Nunca haverá conhecimento amplo e principalmente completo relacionado aos indivíduos psicóticos e, particularmente, esquizofrênicos.

O inconsciente consegue explicar com mais objetividade, de modo talvez mais científico, vários fenômenos anteriormente compreendidos à luz dos aspectos lógicos articulados à razão do consciente. O inconsciente das estruturas egoicas e superegoicas possibilita um entendimento maior a respeito da metafísica e insólita reflexão dos indivíduos que desconhecem o mundo interno e suas inúmeras manifestações anímicas, peculiares à autorreflexão e exame do próprio interior de cada um.

Um psiquiatra e psicanalista pode ter melhores condições na análise de si próprio e das pessoas que produziram transtornos e alterações do psiquismo, para conhecimento do mundo interno e da realidade, às vezes até objetiva.

Observando o sonho e um delírio psicótico, muitas vezes se constata grande semelhança. Ambos costumam não obedecer à lógica e à razão, admitem contradições, são mensagens pouco compreendidas, muitas vezes até cifradas e bastante íntimas. As palavras são condensadas ou deslocadas e determinadas pelas leis do sistema inconsciente. O sonho e o delírio são produzidos por uma lógica especial, bem diferente da comum. Só podem ser explicados a partir da metapsicologia, que, como sempre, busca enunciar que o estranho pode ser compreendido a partir de outra lógica. Tudo isso pode, também, valer para outros fenômenos psíquicos. É para nós óbvio que a chamada psicologia tradicional não fornece as informações necessárias ao entendimento baseado no senso comum.

Palavras e frases devem ser decodificadas por um novo discurso, que, na maioria das vezes, permite uma compreensão melhor para os fenômenos aludidos. Traduzir ou decodificar possibilita uma nova interpretação para os sonhos e para os insólitos delírios dos vitimados pelo suceder psicótico. Certamente, um triste suceder.


Na próxima semana publicarei sobre psicanálise e psiquiatria.

CANTILENA

Uma luz na retina
descortina a menina
nos olhos triste da bailarina.
Tristes olhos mar
de gotas tão serenas
são pequenas lágrimas
nos olhos-mar da morena.
Meu eterno marejar,
submersa cantilena,
tristes olhos mar
de ondas tão pequenas.


Publicada no livro "Luz e Sombra", escrito por mim.

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